29 março 2008

Professores vs. Alunos

É geral e cada vez mais presente na nossa sociedade, o descontentamento dos professores. Estamos a assistir ao descrédito de uma classe que, talvez seja a única, que ainda luta de forma unida pelos seus problemas. A sociedade portuguesa está a desprezar os seus professores (profissionais encarregues de transmitir conhecimento às novas gerações). É ideia geral da população, de que esta classe goza de regalias que os outros trabalhadores não têm (semanas de férias, bom salário e trabalho pouco desgastante). Esta classe acaba por ser vítima da sua própria luta junto dos governantes (nomeadamente em relação às constantes reformas implementadas pelos sucessivos governos e ministros da tutela). A constante mediatização da luta dos profissionais do ensino acaba por “cansar” o resto da sociedade, que vê esta luta como uma vitimização dos professores.

No entanto, estamos a chegar a um ponto de situação muito grave. Para além do referido anteriormente, os professores estão a sofrer na pele esse crescente descrédito. As mais recentes notícias de violência de alunos contra professores têm sido abertura dos telejornais. Esta nova guerra na sociedade tem como principais culpados: todos nós. Não estou aqui a martirizar os professores, nem a fazer de “advogado do diabo”, já que não concordo em muitas questões defendidas pela classe. No entanto, a situação chegou a um nível muito perigoso. A situação ocorrida na Escola Secundária Carolina Michaelis, no Porto, é muito grave e acaba por ser a ponta do icebergue. Muitos outros casos acontecem e nunca chegam a ser divulgados nos media ou mesmo na própria escola. É por isso, que a aluna deve ter um castigo exemplar, para que esta geração e toda a sociedade reflictam.

O professor tem um papel muitíssimo importante na sociedade, já que é ele que transmite o conhecimento às novas gerações e é o garante de uma sociedade mais civilizada. Colocando de lado a questão da qualidade do ensino ou dos próprios professores, já que não é isso que está aqui em jogo, o professor deve ser respeitado por todos nós, pelo seu papel na sociedade e, pura e simplesmente, por ser uma pessoa igual a todas as outras. É comum ouvirmos os nossos pais dizerem-nos como os professores eram rígidos, no seu tempo, e como os seus próprios pais davam a liberdade aos professores para colocarem os seus filhos “na linha”. Hoje, acontece o contrário. Os alunos vão para a escola sem qualquer interesse e respeito pela instituição “escola” e pelos seus professores. Para além disso, ainda têm o apoio dos pais que, eles sim, deveriam educar os seus filhos (também aqui é uma ideia generalizada de que os professores é que devem dar educação aos alunos.) Os pais não participam, em muitos casos, na vida escolar dos filhos, entregam-nos à escola, e os professores que façam o que lhes compete e mais ainda. Mais grave ainda, os pais protegem os maus comportamentos dos seus filhos, tendo o descaramento de aparecerem na escola gritando com os profissionais do ensino. “Porque o meu filho em casa não é assim…”, “porque ele não está a passar um período muito bom…”, etc, etc, etc…

Que este caso seja um exemplo para todos os outros alunos do país e que nos faça reflectir em relação aos nossos comportamentos… pouco cívicos.

08 março 2008

Tons de mudança

Depois de algumas semanas de afastamento, por obrigações académicas, estou de volta ao activo. Depois de alguns leitores terem manifestado alguma tristeza por esta paragem momentânea, espero ter mais tempo disponível, a partir de agora, para o blogue. Para minha infelicidade, os dias só têm 24 horas.

Durante estas semanas, foram inúmeros os acontecimentos marcantes que foram noticiados, uns mais do que outros, pelos media internacionais. Seria humanamente impossível e tornar-me-ia repetitivo escrever sobre todos eles ou mesmo sobre os mais importantes. Desta forma, para este regresso, decidi trazer quatro temas que poderão ser o início de novas etapas, em diferentes regiões do globo.

Em primeiro lugar, o acontecimento mais significativo foi o afastamento, por vontade própria, de Fidel Castro, de todos os cargos de poder da República de Cuba. Este afastamento, para já, e ao que tudo indica, será só aparente, já que Fidel, líder incontestado da revolução cubana, continuará a opinar sobre os acontecimentos que marcam o dia-a-dia do país no jornal do Partido Comunista Cubano e terá sempre influência, no rumo a dar a Cuba. Para o seu lugar, foi eleito, no passado dia 24 de Fevereiro, o seu irmão Raúl Castro, de 76 anos, que já estava a chefiar o Conselho de Estado, em substituição de Fidel, devido à doença deste último.

Goste-se ou não da pessoa ou das suas ideologias socialistas, Fidel Castro marcou a história do século XX, pela coragem que sempre demonstrou em fazer frente aos todo-poderosos Estados Unidos da América (EUA), em nome dos “oprimidos” ou do movimento dos não-alinhados. Após 49 anos de poder, Fidel afasta-se, pelo menos dos cargos políticos. Este facto é o virar de página da história cubana. Não é o fim, nem sequer o início do fim da ditadura, mas poderemos estar perante o início de algumas mudanças da ideologia comunista que governa o país. Haverá uma abertura gradual ao exterior. É, sem dúvida, a modernização do regime, tal como, sucedeu na China. Os próximos anos nos esclareceram…




Em segundo lugar, e menos mediático que o primeiro, foram as eleições presidenciais em Chipre. A subida ao poder de Demetris Christofias, poderá ser uma viragem para o país, situado no mar Egeu, e dividido desde 1974. A sul da ilha, a República de Chipre (pró-grega), reconhecida pela comunidade internacional e membro da União Europeia desde 2004, a norte, a República Turca de Chipre do Norte (pró-turca), reconhecida unicamente pela Turquia. Os dois Estados têm como capital, Nicósia, que é a última capital europeia dividida. Em 1974, reagindo a um golpe dos cipriotas gregos, que queriam a união com a Grécia, a Turquia invadiu a ilha, ocupando a parte norte.

Christofias já demonstrou vontade em encontrar-se com o seu homólogo do norte, algo impensável, com o anterior chefe de Estado, Tassos Papadopoulos. Com esta eleição, a população do lado grego, demonstrou vontade de mudança, relativamente ao processo de reunificação. Os próximos meses serão decisivos…



O terceiro exemplo que trago aqui e que demonstra alguma mudança na política internacional em algumas partes do globo, é a recente visita do Presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, ao Iraque. Pela primeira na história, um presidente iraniana pisou solo iraquiano. Um marco histórico que durou quarenta e oito horas e que representa a reaproximação de dois países que já foram inimigos. Para além disso, há a realçar duas consequências desta mesma visita. Em primeiro lugar, a possível aproximação entre o Irão e os EUA, tendo o Iraque como intermediário. Nos últimos meses, foi notório o apaziguamento das relações entre Irão/EUA, nomeadamente no que toca à questão do programa nuclear iraniano, tendo os EUA apresentado um relatório dos seus serviços secretos realçando o fim desse mesmo plano em 2003.

A segunda questão a realçar desta visita de Ahmadinejad ao Iraque, serve para demonstrar um certo ascendente do seu país naquela região. Com o ataque dos EUA ao Afeganistão e ao Iraque – afastando regimes políticos hostis a Teerão – proporcionaram ao Irão uma importância regional que não tinha até agora. Mais visitas entre os dois governos se perspectivam nos próximos tempos…



Por fim, e como último caso de mudança, temos a Coreia do Norte. A Coreia do Norte é uma ditadura socialista rigidamente centralizada, com o poder nas mãos de Kim Jong Il. Parece surpreendente, mas é verdade. O regime coreano entreabriu as portas do país para acolher um concerto da Filarmónica de Nova Iorque em Pyongyang, capital norte-coreana. Tal como no exemplo anterior (do Irão), aqui também verificamos algum desanuviamento das relações entre os EUA e a Coreia do Norte (tal como o Irão, membro do denominado (pelos EUA) “Eixo do Mal”). Este evento marcou a primeira deslocação da maior instituição cultural norte-americana àquele território. Além disso, esta deslocação significou a maior presença de cidadãos norte-americanos em solo norte-coreano, desde o fim da guerra da Coreia, em 1953. Para 2009, Kim Jong Il vai reabrir as portas do país para outro concerto, e desta vez será… Eric Clapton.