08 julho 2008

Já não era sem tempo


Um ciclo terminou na Selecção Nacional de Futebol. A era Luiz Filipe Scolari terminou e o balanço não me parece ter sido o melhor. Quem me conhece saberá o quanto desejava esta saída. Ao contrário da grande maioria dos portugueses, o Sr. Scolari nunca me entusiasmou e nunca me levou a colocar a bandeira de Portugal na janela, nem mesmo, o cachecol ao pescoço. Durante cinco anos, estive de costas voltadas para uma selecção na qual eu nunca me revi. (Não apoiar a Selecção Nacional não é, ao contrário daquilo que muitos pensam, ir contra a Pátria. Estamos a falar de futebol, não do país e sua soberania.) Foram demasiadas as trapalhadas, os erros e as birras do Sargentão. E os resultados? Com a saída do brasileiro, a maioria do País considerou que este seleccionador fez história pelo seu percurso na nossa Selecção, ao elevá-la a um nível onde nunca tinha chegado. Não posso concordar.

O nível a que o Sr. Scolari pôs a Selecção é o mesmo nível em que ela já estava antes dele chegar. A Selecção Portuguesa já tinha reconhecimento internacional antes da era Scolari. Luiz Filipe Scolari chegou com a performance do Mundial da Coreia e do Japão ainda no pensamento de todos nós. É verdade que essa prestação foi uma catástrofe, mas estivemos lá. Quantas presenças tem Portugal em Mundiais ou Europeus? (Mundiais: 4 (países como o México: 13; Bélgica e Suécia: 11; Estados Unidos e Suíça: 8 têm mais presenças do que Portugal, que está na 29ª posição, dos países com mais presenças, em igualdade com Colômbia, Marrocos, Perú, Tunísia e Arábia Saudita)) (Europeus: 5 (com a Dinamarca à frente com 7 e em igualdade com a Antiga União Soviética, Jugoslávia, República Federal Alemã (países que já nem existem) e a “nova” Alemanha) E se essa campanha do Mundial 2002 foi considerada uma catástrofe é porque a nossa Selecção já tinha algum renome internacional. A Selecção participou no Europeu inglês em 1996, chegando aos quartos-de-final (tal como o Euro que terminou há poucos dias). Depois teve azar na qualificação para o Mundial de França, em 1998. Em 2000, a Selecção (para mim, a melhor equipa que Portugal já teve em competições internacionais) participou no Europeu, na Bélgica e na Holanda, chegando às meias-finais, sendo eliminada pela, na altura, toda poderosa França (campeã mundial e futura campeã europeia). Não quero retirar mérito ao Sr.Scolari, mas ele não conseguiu elevar mais o nível da Selecção, este nível já tinha sido atingido.

A era Scolari começou com o Euro 2004, jogado em casa. A primeira derrota na competição, veio demonstrar a casmurrice do Sargentão, que andou vários meses a colocar uma equipa, quando estava à vista de toda a gente que ele tinha o esqueleto da equipa do FC Porto (campeã da Europa) à disposição. Isto, para não falar da não convocação ou pelo menos explicação para essa não convocação, daquele que considero o último guarda-redes português de nível mundial, Vítor Baía (campeão da Europa com o FC Porto e tendo realizado uma excelente época). Portugal chegou à final, com uma equipa construída pelo treinador do FC Porto, perdendo, em casa, com a Grécia. E repito, em casa!

Outras questões como a dos sub-21, em que o Sr. Scolari veio, a poucos dias do começo do Europeu da categoria, organizado em Portugal, dizer que era ele o “patrão” dos sub-21, fragilizando a posição do então treinador daquela equipa, Agostinho Oliveira. Eu pergunto-me, se ele alguma vez olhou para as selecções mais jovens.

A questão da escolha do Ricardo e a teimosia de colocá-lo sempre a jogar, mesmo quando este não se apresentava nas melhores condições. Esta teimosia, custou a Portugal, a vitória no Euro 2004 (para mim, o Ricardo tem a sua quota-parte de culpa no lance do golo da Grécia, na final do Euro 2004) e a passagem às meias-finais do último Euro, na Suíça e na Áustria. Pena é que, enquanto jogou em Portugal, não se podia dizer mal do Ricardo porque tínhamos, desde logo, os sportinguistas a contrapor com o argumento de que, só se dizia mal do Ricardo por ele ser do Sporting. Até então, ele era o herói nacional… até defendia penáltis sem luvas!

Outras questões ficaram muito mal explicadas. Neste Euro, a questão de não querer os jogadores a negociar possíveis transferências enquanto estavam na Selecção, quando ele próprio estava a negociar com o Chelsea. Ou mesmo, a total liberdade que deu após o jogo com a Rep. Checa. Lamentável.

Foram demasiadas as trapalhadas e não quero estar a sacrificar o Sr. Scolari. Não foi tudo mau, como é óbvio. O Sr. Scolari trouxe organização à Selecção Nacional. Para além disso, o Sr. Scolari conseguiu que a população voltasse a torcer pela Selecção, com tudo aquilo que tem de bom e de mau. (Como referi, no início do texto, quem apoiava a Selecção era o “bom português”, quem não apoiava era “mau português”, para não falar das “parolas” conferências de imprensa com cantores “pimba” ou do mau trabalho dos jornalistas portugueses, durante as fases finais dos Euros e do Mundial, que retiraram a sua camisola de jornalistas para vestir a de Portugal (isto é que são jornalistas)).

Concluindo, o Sr. Scolari foi contratado para ganhar (não nos podemos esquecer, que ele veio como Campeão do Mundo, com um ordenado bem chorudo) e falhou. Não conseguiu elevar, mais do que estava, o prestígio da Selecção. E mais, com esta contratação (de Scolari), foi colocado em perigo o futuro das Selecções Nacionais, já que como referi anteriormente, o Sr. Scolari veio para treinar a Selecção A, nunca dando muita importância às selecções jovens. Para além disso, nem sempre foram convocados os melhores, nem me lembro sequer de ele ter observado jogos (tirando as finais da Taça de Portugal, em que ele era convidado), para poder ver os jogadores em acção.

O Sr. Scolari é um treinador médio, tem como principais pontos em seu favor, a motivação dos jogadores e a criação da união de grupo. No entanto, no que toca à questão táctica, o Sr. Scolari é um fracasso. Agora, só espero para vê-lo a treinar em Inglaterra e a lidar com os jornalistas ingleses (ele que tanto se queixava dos portugueses).



PS: o Sr. Scolari teve, durante todo o tempo em que permaneceu em Portugal, toda a liberdade para fazer o que queria. Várias situações, algumas referidas por mim nas linhas anteriores, poderiam ter sido evitadas, se a Federação Portuguesa de Futebol tivesse à sua frente um Presidente que se conseguisse impor. Nunca ficou bem claro, quem realmente mandava em quem (Madaíl em Scolari ou Scolari em Madaíl).

Se me permitem, deixo já a minha preferência para o novo seleccionador. Terá defeitos como todos nós, mas, se Portugal teve uma Selecção competitiva, nos últimos 10-15 anos, deve-se a uma pessoa – Carlos Queiróz.

02 julho 2008

Euro 2008: Y vive Espanha!


Futebol espectáculo, de qualidade, privilegiando a troca da bola, assim se pode traduzir a forma de jogar da equipa que venceu o Campeonato da Europa de Futebol, que terminou no passado domingo 29. Reinou o futebol de ataque. Para todos os amantes deste tipo de futebol, como eu, foi uma grande vitória, pondo fim, às vitórias de equipas mais cínicas, como a Grécia, no Euro 2004, e a Itália, no Mundial 2006. A equipa espanhola demonstrou que o futebol se ganha pelo seu colectivo, e não pelo número de estrelas que uma equipa possui. Além disso, a Espanha também demonstrou a importância que tem o meio-campo de qualquer equipa de futebol. Mesmo não tendo uma defesa de grande qualidade (à excepção de Sérgio Ramos), e com um ataque, por vezes, com um único avançado, o meio-campo é (no futebol)/foi (na Espanha) o sector crucial, tanto a atacar, como a defender. Com um leque de jogadores de altíssimo nível, tanto no campo como no banco, os espanhóis levaram a taça 44 anos depois. Uma surpresa para mim, confesso.


No que toca ao balanço deste Europeu, destacaria pela positiva e pela negativa, respectivamente:


1) Aposta ganha do futebol espectáculo/ofensivo (Espanha, Holanda, Croácia, Portugal, etc. …);
2) Emoção e grandes golos;
3) Estádios cheios com paisagens em fundo deslumbrantes;
4) Imagens aéreas dando uma nova perspectiva do jogo – câmara “aranha” deve continuar;


5) Lesões, várias delas graves – talvez seja necessário rever a calendarização de todo o futebol e o respectivo número de jogos;
6) Organização deixou um muito a desejar. Os Fan Park foram, na sua maioria, instalados nos arredores das cidades, de forma a não incomodar a rotina dos locais, que pouco se envolveram na festa (é o preço a pagar por dar a organização a países onde o futebol tem pouco expressão);
7) Condições climatéricas – tendo passado parte da minha infância e adolescência na Suíça, não me recordo de mudanças climatéricas tão radicais, no espaço de um único dia – efeitos do aquecimento global.

No que toca a equipas e jogadores, o balanço é:


1) Espanha, Holanda, Rússia, Croácia e Turquia.
2) Senna, Xavi e David Silva (Espanha), Sneijder e Engelaar (Holanda), Pepe e Deco (Portugal), Modric (Croácia), Arshavin e Pavlyuchenko (Rússia), Ballack (Alemanha).


3) Rep. Checa, França, Itália e Suécia.
4) Luca Toni (Itália), Patrick Vieira e Henry (França), Cristiano Ronaldo (Portugal).