04 dezembro 2015

400M€: será mesmo um bom negócio?




Depois da notícia bomba da noite da passada quarta-feira, sobre o acordo entre a NOS e o Benfica, algumas questões ficam no ar, à espera das respectivas respostas no próximo dia 10 de Dezembro, altura em que o acordo será formalmente apresentado e assinado.

Neste sentido, é importante destacar algumas das dúvidas que deverão ser esclarecidas sobre o negócio:

1) O comunicado da NOS refere que o contrato agora estabelecido com o Benfica será de três anos, renovável até ao máximo de dez anos. O valor de 400M€ refere-se ao valor "global" do negócio. Com isto não quer dizer que o valor a receber por parte do Benfica seja de 40M€/ano, já que o comunicado termina indicando que os 400M€ serão repartidos "em montantes anuais progressivos". Dessa forma, quanto é que afinal vai receber o Benfica anualmente? E porquê fechar o negócio agora, quando tanto a Altice/MEO, como a Eurosport já tinham demonstrado interesse em entrar no negócio dos direitos televisivos, podendo o valor ter sido superior?

2) A segunda questão que é importante ser respondida é onde irão ser transmitidos os jogos em casa da equipa A do Benfica. Irão os jogos do Benfica voltar para as mãos da Sport TV, indo contra o desejo de uma grande maioria dos sócios do Clube (inclusive alguns dirigentes)? Ou irão os mesmos jogos continuar a ser transmitidos na BTV, como até agora? E o agendamento dos jogos, continuará o Benfica a puder fazer essa gestão, marcando os seus jogos nos horários que entender convenientes?

Tendo em conta que os direitos televisivos foram adquiridos pela NOS (e não pela Sport TV, como é normal nos direitos televisivos desportivos no geral), parece-me que poderá haver a possibilidade dos jogos se manterem na BTV (é mais uma esperança do que uma crença) ou até que sejam transmitidos pelos dois canais em simultâneo, como já acontece com os jogos da Liga dos Campeões que são transmitidos pela RTP e, em simultâneo, pela Sport TV. Nesse sentido, o facto dos direitos televisivos da Premier League voltarem para a Sport TV, e o seu anúncio ter sido no dia seguinte ao acordo NOS/Benfica, não terá sido por acaso.

No entanto, se os jogos voltarem à Sport TV, será difícil a Luís Filipe Vieira explicar aos sócios esta reaproximação a Joaquim Oliveira. Na última Assembleia Geral do Clube, levantei a questão se o Benfica estaria (disposto) a negociar os seus direitos televisivos com a Sport TV. Fui acusado de populismo pelo Vice-Presidente Nuno Gaioso Ribeiro e alguns sócios apoiantes desta Direcção acusaram-me de manobras de distracção. Talvez hoje estejam ansiosos pelas respostas que serão dadas no dia 10...

3) Outra das questões relevantes será a questão do projecto BTV. Segundo algumas notícias, o acordo estabelece que os valores anuais estarão divididos em duas parcelas. Por um lado, 25M€ pelos direitos televisivos dos jogos do Benfica na Luz, por outro, 15M€ pela BTV.

Uma vez que a BTV é detentora dos direitos televisivos das ligas francesa e italiana, é muito provável que o projecto BTV se mantenha inalterado. No entanto, aqui outras questões se levantam, nomeadamente: quem ficará com a gestão (editorial, financeira, etc.) da BTV? quem irá suportar os custos anuais do canal do Benfica, que rondam os 11M€/anuais? quem recebe as receitas de publicidade do canal? o canal será exclusivo da NOS? se for distribuído para outros operadores (como é normal), os valores de subscrição serão idênticos, independentemente da operadora?

A resposta a todas estas questões é crucial para perceber se o negócio será assim tão bom e vantajoso para o Benfica, em relação ao actual modelo de gestão dos seus próprios direitos televisivos. No entanto, um contrato de dez anos para direitos televisivos parece demasiado longo, tendo em conta a evolução do mercado nos últimos dez anos. A resposta pronta para fechar este acordo parece mais uma jogada de antecipação em relação à Liga e a Pedro Proença (e seus apoiantes, FC Porto e Sporting), uma vez que o leilão dos direitos televisivos só iria começar agora.

Pelo contrário, para a NOS é um negócio fantástico. Não só consegue o mais importante conteúdo televisivo do País, como consegue, através da Sport TV (de quem é acionista) recuperar a Premier League, voltando a transmitir os conteúdos que mais audiências têm em Portugal.

Esperemos que o dia 10 de Dezembro seja totalmente esclarecedor sobre o teor do negócio.