30 junho 2016

Deste-nos o 35




Hoje é oficialmente o fecho da época 2015/2016, pelo menos contabilisticamente, uma vez que no campo os trabalhos retomaram.

Como balanço futebolístico da época que agora termina, o Benfica prosseguiu a sua senda de vitória a nível interno, conseguindo dois troféus, em quatro possíveis (Liga, Taça de Portugal, Taça CTT e Supertaça), para além de uma campanha europeia ao nível da sua longa história.

A época foi difícil, ainda para mais nas circunstâncias em que se iniciou. Saída atribulada, de um treinador que ganhou muito pelo Clube e com seis anos de casa. Entrada de um novo treinador, com muita desconfiança de uma grande parte dos adeptos e até dentro da própria estrutura directiva. Uma pré-época mal planeada pela equipa técnica anterior. E com uma, aparente, mudança de paradigma, através da aposta na formação. Para piorar ainda mais a situação, primeiro jogo oficial (Supertaça) contra o eterno rival, Sporting, mas acima de tudo, contra o antigo treinador e o “fantasma” de Jorge Jesus, sempre presente dentro do Clube ao longo de toda a época.

O início da época foi muito difícil. Derrota na Supertaça, empate com o Arouca, num estádio de Aveiro encarnado e humilhação, em casa, contra o Sporting. Tinha tudo para correr mal, como corre na maior parte das vezes em que é iniciado um novo ciclo (basta recordar o FC Porto pós-Mourinho). Em Dezembro, empate na Madeira com o União e sete pontos de atraso para o líder Sporting e cinco para o segundo classificado Porto. Neste dia ficou claro para muitos benfiquistas, nos quais me incluo, que a época seria miserável. A derrota com o Porto, em casa, seria o culminar de uma profunda depressão em que a família benfiquista teimava em quer mergulhar. A juntar a isso, as lesões de elementos cruciais, Luisão, Júlio César, Gaitán, Salvio, Gaitán (a espaços).

No entanto, um acontecimento externo levou à união de jogadores e treinador. A célebre conferência de imprensa de Jorge Jesus, na sua baixeza de sempre e característica, não considerando o seu colega de profissão Rui Vitória como treinador de futebol, foi um dos momentos marcantes e de reviravolta do campeonato. A partir desse momento, foi visível a união criada dentro do grupo de trabalho, assistindo-se a momentos de grande futebol e de vitórias atrás de vitórias. Outra situação também foi crucial para o regresso às vitórias e o aproximar dos dois primeiros classificados. Começou a verificar-se uma alteração de estilo de jogo e a inclusão de novas ideias. Muitos apelidaram que Rui Vitória começou a pensar pela sua cabeça, abdicando de um passado ainda muito presente. A inclusão de puto maravilha é, de alguma forma, essa mudança. Com Renato Sanches a equipa ganhou irreverência, criatividade, um motor. No fundo, a ligação defesa-ataque que faltava e que outros tentaram colmatar sem sucesso. Era o 8 que faltava, o box-to-box.

Com as vitórias a sucederem-se, os jogos empolgantes na Europa, os golos do super Jonas, a magia de Gaitán, a onda encarnada começou a crescer, até porque o rival da Segunda Circular não dava tréguas. De vitória em vitória, o 35 chegou (e tantos fomos os que o pediram…)! Nunca estivemos tão perto do fracasso, mas conseguimos levantar a cabeça e reerguermo-nos, contra tudo, mas acima de tudo, contra nós próprios, contra a história, contra as estatísticas. No final, 88 pontos, recorde de pontos, o 35 era nosso! Tricampeões!

Não posso deixar de destacar a aposta na formação, com a inclusão de jovens jogadores da “casa”, que entraram na equipa sem qualquer pressão e puderam mostrar todo o seu valor. Renato Sanches, Ederson, Lindelof, Nélson Semedo, Gonçalo Guedes, entre muitos outros que ainda virão. Uma equipa de futebol não se faz apenas de jovens formados localmente, mas também são precisos, até porque muitos deles são a personificação da mística benfiquista, ajudando os jogadores que vêm de fora a integrassem melhor naquilo que realmente representa o Clube.

Por fim, destacar o Presidente, Luís Filipe Vieira, pela aposta em Rui Vitória e por ter acreditado, naquele que foi, o seu treinador durante algum tempo e só mais tarde o treinador de todos os benfiquistas.

04 dezembro 2015

400M€: será mesmo um bom negócio?




Depois da notícia bomba da noite da passada quarta-feira, sobre o acordo entre a NOS e o Benfica, algumas questões ficam no ar, à espera das respectivas respostas no próximo dia 10 de Dezembro, altura em que o acordo será formalmente apresentado e assinado.

Neste sentido, é importante destacar algumas das dúvidas que deverão ser esclarecidas sobre o negócio:

1) O comunicado da NOS refere que o contrato agora estabelecido com o Benfica será de três anos, renovável até ao máximo de dez anos. O valor de 400M€ refere-se ao valor "global" do negócio. Com isto não quer dizer que o valor a receber por parte do Benfica seja de 40M€/ano, já que o comunicado termina indicando que os 400M€ serão repartidos "em montantes anuais progressivos". Dessa forma, quanto é que afinal vai receber o Benfica anualmente? E porquê fechar o negócio agora, quando tanto a Altice/MEO, como a Eurosport já tinham demonstrado interesse em entrar no negócio dos direitos televisivos, podendo o valor ter sido superior?

2) A segunda questão que é importante ser respondida é onde irão ser transmitidos os jogos em casa da equipa A do Benfica. Irão os jogos do Benfica voltar para as mãos da Sport TV, indo contra o desejo de uma grande maioria dos sócios do Clube (inclusive alguns dirigentes)? Ou irão os mesmos jogos continuar a ser transmitidos na BTV, como até agora? E o agendamento dos jogos, continuará o Benfica a puder fazer essa gestão, marcando os seus jogos nos horários que entender convenientes?

Tendo em conta que os direitos televisivos foram adquiridos pela NOS (e não pela Sport TV, como é normal nos direitos televisivos desportivos no geral), parece-me que poderá haver a possibilidade dos jogos se manterem na BTV (é mais uma esperança do que uma crença) ou até que sejam transmitidos pelos dois canais em simultâneo, como já acontece com os jogos da Liga dos Campeões que são transmitidos pela RTP e, em simultâneo, pela Sport TV. Nesse sentido, o facto dos direitos televisivos da Premier League voltarem para a Sport TV, e o seu anúncio ter sido no dia seguinte ao acordo NOS/Benfica, não terá sido por acaso.

No entanto, se os jogos voltarem à Sport TV, será difícil a Luís Filipe Vieira explicar aos sócios esta reaproximação a Joaquim Oliveira. Na última Assembleia Geral do Clube, levantei a questão se o Benfica estaria (disposto) a negociar os seus direitos televisivos com a Sport TV. Fui acusado de populismo pelo Vice-Presidente Nuno Gaioso Ribeiro e alguns sócios apoiantes desta Direcção acusaram-me de manobras de distracção. Talvez hoje estejam ansiosos pelas respostas que serão dadas no dia 10...

3) Outra das questões relevantes será a questão do projecto BTV. Segundo algumas notícias, o acordo estabelece que os valores anuais estarão divididos em duas parcelas. Por um lado, 25M€ pelos direitos televisivos dos jogos do Benfica na Luz, por outro, 15M€ pela BTV.

Uma vez que a BTV é detentora dos direitos televisivos das ligas francesa e italiana, é muito provável que o projecto BTV se mantenha inalterado. No entanto, aqui outras questões se levantam, nomeadamente: quem ficará com a gestão (editorial, financeira, etc.) da BTV? quem irá suportar os custos anuais do canal do Benfica, que rondam os 11M€/anuais? quem recebe as receitas de publicidade do canal? o canal será exclusivo da NOS? se for distribuído para outros operadores (como é normal), os valores de subscrição serão idênticos, independentemente da operadora?

A resposta a todas estas questões é crucial para perceber se o negócio será assim tão bom e vantajoso para o Benfica, em relação ao actual modelo de gestão dos seus próprios direitos televisivos. No entanto, um contrato de dez anos para direitos televisivos parece demasiado longo, tendo em conta a evolução do mercado nos últimos dez anos. A resposta pronta para fechar este acordo parece mais uma jogada de antecipação em relação à Liga e a Pedro Proença (e seus apoiantes, FC Porto e Sporting), uma vez que o leilão dos direitos televisivos só iria começar agora.

Pelo contrário, para a NOS é um negócio fantástico. Não só consegue o mais importante conteúdo televisivo do País, como consegue, através da Sport TV (de quem é acionista) recuperar a Premier League, voltando a transmitir os conteúdos que mais audiências têm em Portugal.

Esperemos que o dia 10 de Dezembro seja totalmente esclarecedor sobre o teor do negócio.

05 janeiro 2014

Até sempre!


Há homens que não deveriam partir... Há homens que se tornam lendas... Há homens que são imortais...

Eusébio, o King, 1,75m de altura, um pontapé potentíssimo. Muitos golos. 638 golos em 614 jogos pelo Benfica. 41 golos em 64 jogos pela Selecção. Muitas vitórias! Um dos melhores jogadores de todos os tempos, a nível Mundial.

Assim podemos descrever Eusébio da Silva Ferreira. Há muito uma Lenda no futebol e reconhecido por todos os amantes do desporto-rei, Eusébio confunde-se com o Benfica e com Portugal.
O País perde a sua última referência do eterno desígnio Fátima (Irmã Lúcia), Fado (Amália) e Futebol (Eusébio).

O Benfica perde parte da sua Mística.

Pessoalmente, nunca o vi jogar, nem nunca privei com ele. Mas sempre ouvi falar dele, na minha meninice. O meu avô materno, o avô Alfredo, que faleceu, fez ontem um ano, e que me incutiu esta paixão enorme que sinto pelo Glorioso, falava-me muito das Gloriosas vitórias de Eusébio e companhia.

Hoje, não pude deixar de prestar a minha homenagem ao Rei da Bola… e ao meu Avô.

Até sempre!

22 junho 2012

Um ano!

 
 
Mãe,
 
Faz hoje um ano que partiste...
Um ano de algumas alegrias, mas acima de tudo, de emoções fortes, muito diferentes e antagónicas, entre tristezas, alegrias e saudade.
 
Tristeza por teres partido, quase sem te despedires, por não teres vivido tudo aquilo que desejavas e por teres marcado presença em todas as mudanças/alegrias que tivemos no último ano, por não poderes acompanhar as nossas "novas" vidas, dando-lhes mais alegria e cor.
 
Saudades, de ir a casa ao fim-de-semana e ter um prato de comida à minha espera, de nos tratares por "o meu João" ou "o meu Dário". Do teu carinho, da tua tranquilidade. Das idas ao supermercado, nos quais eu "refilava" contigo, dizendo-te que tinha muitas coisas para fazer e não tinha tempo para andar de um lado para o outro. E até das nossas constantes viagens ao IPO de Coimbra, na tua luta heróica contra a doença. Só tu sabes o quanto lutastes, o quanto sofrestes física e psicologicamente durante cinco anos. Saudades de ouvir a tua voz (quantas vezes eu desejo que, quando ligo para casa, pedir ao pai ou ao Dário, para te passarem o telefone)...
 
Há um ano, poucas horas antes do teu funeral, escrevi que a luz de um farol se tinha apagado e que a partir de agora outros nos iriam guiar. Hoje, sei que deixaste de ser o nosso farol, que nos guiava no meio das tempestades, mas tornaste-te numa estrela, sempre presente e brilhante, continuando a mostrar-nos o melhor caminho a seguir.
 
Até sempre...





PS: agradeço todo o apoio de familiares e amigos ao longo do último ano e a todos os que, constantemente, me incentivaram a voltar a retomar este blogue, partilhando os meus pensamentos e as minhas/nossas passagens de vida...

22 junho 2011

Maria Margarida Figueiredo: 23/10/1962 - 22/06/2011




Querida Mãe,


Neste dia de dor e sofrimento, a tua partida representa para nós a perda de uma referência, de um farol que nos encaminhava para um porto seguro, reconfortante e que nos guiava no meio das tempestades.


Hoje, esse farol apagou-se. Não te escondo que ficamos todos à deriva. Mas também sei que outros faróis se irão iluminar. Não serão iguais, é certo. Não terão uma luz tão intensa, é impossível. Mas sabemos que nos ajudarão a seguir as nossas viagens.


Quando penso na tua partida, não te escondo a tristeza que tenho de perderes todos os acontecimentos que ainda tinhas pela frente. Desde os nossos casamentos, o aparecimento dos netos (de que tanto falavas e desejavas), ou simplesmente, de gozares aquilo pelo que tanto lutastes.


Essa luta levou-te a saíres do País, a trabalhares incansavelmente, sempre com o objectivo de proporcionares um futuro melhor para mim e para o Dário. Ensinaste-nos a batalhar neste mundo tão cruel e injusto, a lutarmos pelos nossos objectivos, pelo nosso futuro mas também a sermos humildes e amigos dos nossos amigos.


Hoje, não encontro as palavras certas, nem suficientes, para te agradecer aquilo que fizeste por nós, ao longo dos teus, curtos, quarenta e oito anos. Só me resta dizer-te que sentimos muitas saudades tuas e que nos acompanharás, para sempre, nos nossos corações.


Amamos-te,


Filhos e marido

04 abril 2011

"Geração à Rasca: A Nossa Culpa", Mia Couto



"Um dia, isto tinha de acontecer.

Existe uma geração à rasca?

Existe mais do que uma! Certamente!

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustações.

A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram, tudo.

Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.


Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.


Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.


Foi então que os pais ficaram à rasca.

Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.

Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.


São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer «não». É um «não» que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!


A sociedade colhe assim, hoje, os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.

Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.

Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.

Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.

Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.

Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.


Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?

Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!

Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus cotemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.


E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!


Novos e velhos, todos estamos à rasca. Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.

A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.

Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.

Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma generalização injusta.

Pode ser que nada/ninguém seja assim."


Mia Couto