31 agosto 2007

Ensino Superior... às prestações


É uma obrigação do Estado e, em seu nome, do Governo, levar a educação às populações. É, também, com a educação que se cria massa crítica, emprego qualificado e, por consequência, melhores condições de vida. A educação é um pilar essencial para a construção de qualquer Estado democrático.

Sendo assim, e dentro da linha traçada pelo actual Governo, o primeiro-ministro José Sócrates anunciou, na semana passada, uma nova medida de apoio financeiro aos actuais e/ou possíveis candidatos ao ensino superior e investigadores. Esta medida passa por um empréstimo bancário em condições excepcionais, até 25 mil euros. Para além disso, o Estado deposita uma caução inicial junto do banco que conceder o empréstimo. Em compensação, o aluno não poderá chumbar de ano, sob pena de perder o empréstimo e ter um bom aproveitamento escolar durante os anos de curso. Uma medida interessante, que poderá abrir as portas de um curso universitário a muitos jovens que não teriam possibilidades para tal. Mas, com tanta oferta, não será de desconfiar? Quando os Governos (independentemente da cor política) oferecem muito, há que desconfiar.

E há mesmo, já que como qualquer empréstimo, terá que ser pago. Assim, depois de concluírem os seus cursos terão um ano de carência e só depois começarão a pagá-lo, durante um máximo de seis anos. Ora, tal como estão as circunstâncias, será necessário que o recém-licenciado encontre emprego dentro desse ano de carência. Caso encontre, terá de suportar um encargo “extra”, logo no início da sua vida de trabalhador. Mas se não encontrar o bendito emprego? Quem pagará por ele? Os pais, que muito possivelmente já terão os seus próprios empréstimos para resolver? A banca não vai, com toda a certeza, ficar sem o seu dinheiro. Ah! Deve ser o Estado que paga! Ou talvez o primeiro-ministro?!

O único fim que consigo vislumbrar desta medida é o, ainda, maior enriquecimento do sector bancário, que é o sector que apresenta os maiores lucros no nosso país. Todos os anos se batem recordes de lucros neste sector, que vão subir ainda mais. Para além disso, está-se a criar toda uma sociedade “empréstimo-dependente”.

Não é que os fins desta medida sejam maus. Mas, não seria mais justo um reforço na fiscalização da atribuição das bolsas de estudo? Talvez, fiscalizar os muitos empresários, com os seus BMW e Mercedes topos-de-gama, que só declaram o salário mínimo nacional e conseguem que os seus filhos consigam bolsas de estudo, não? Com certeza que daria para abrir horizontes a muitos jovens… sem os endividar.

23 agosto 2007

Saída anunciada?


Terá sido mesmo uma surpresa? Parece que só Fernando Santos ficou surpreendido com a sua demissão.

Foi preciso jogar-se a primeira jornada do campeonato nacional, para o presidente encarnado despedir o treinador Fernando Santos. Mas será que o culpado pelos maus resultados é mesmo Fernando Santos. Será que a “crise” encarnada não é mais profunda do que parece? Vejamos a questão mais aprofundadamente.

Em primeiro lugar, é necessário ver algumas questões estruturais, nomeadamente, no que toca aos adeptos. O Benfica tem uma massa adepta que vive a paixão pelo seu clube de uma forma muito diferente do que qualquer outro clube em Portugal. Não é que seja mais apaixonado ou não, simplesmente, vive de uma maneira muito diferente. Essa paixão tão intensa leva ao estrangulamento da própria equipa e do clube. É uma sensação difícil de descrever. Desta forma é muito difícil, à partida, treinar ou jogar no clube. Qualquer substituição errada (na opinião dos adeptos) ou qualquer mau passe de um jogador é severamente punida com uma monumental assobiadela. Não é por acaso que muitos treinadores ou jogadores passaram pelo “Glorioso” e que não foram felizes, demonstrando o seu real valor noutros clubes. Fernando Santos foi mais um treinador que não conseguiu entrar para as páginas douradas do clube da Luz.

Em segundo lugar, o treinador Fernando Santos nunca foi bem amado no clube. Desde que assumiu a posição de treinador, há um ano atrás, que os adeptos nunca gostaram dele. Nunca foi uma escolha bem vista para os lados do terceiro anel. Treinador pouco carismático, nunca foi compreendido pelos adeptos e a sua permanência na equipa técnica, no fim da época passada, foi (aí sim!) uma surpresa.

No entanto, a questão para esta instabilidade vem não do treinador, mas sim, da organização do clube. Ou, da falta dela. No sábado, após o jogo com o Leixões, o capitão da equipa (Nuno Gomes) veio dizer que a equipa não teve tranquilidade desde o início da pré-época. Mas, para quem foram estas palavras? Para o treinador? Para o presidente? Para os adeptos? Para a comunicação social? Aquilo que poderemos dizer à primeira vista, é que o Nuno Gomes colocou o dedo na ferida. Durante toda a pré-época, o Benfica não saiu das páginas dos jornais, e não por questões de contratações, como é habitual durante esta época. Questões como a OPA de Joe Berardo sobre o clube e as declarações deste em relação ao Rui Costa e à equipa, por exemplo, não devem ter ajudado muito. Para além disso, a saída de Simão Sabrosa que, sabe-se agora, com a entrevista de Fernando Santos à RTP, nunca, neste defeso, demonstrou intenções de sair do clube. Quando Fernando Santos dizia que perder Simão seria um verdadeiro pesadelo, não estaria à espera que dois dias depois, o perdesse mesmo. Depois, veio o caso Manuel Fernandes que, é convocado para o jogo com o FC Copenhaga de manhã e à tarde já está com um pé no Everton, sem que o treinador tenha sido avisado antecipadamente. Algo curioso, não?

O verdadeiro culpado desta situação é o presidente Luís Filipe Vieira que nunca deveria ter mantido o treinador Fernando Santos no seu posto, no fim da última época. José António Camacho já deveria ter iniciado a época. Para além disso, não deveria delegar a chefia do futebol profissional na sua pessoa, tal como o Fernando Santos referiu na entrevista acima referida. Luís Filipe Vieira não tem competências para dirigir o futebol, o clube e, para além disso, a sua carreira empresarial, ao mesmo tempo. Por isso, a saída de José Veiga de director-desportivo foi uma grande baixa para o clube. Goste-se ou não dele e do seu estilo, era uma pessoa que tinha conseguido manter o plantel tranquilo e “blindado”. Essa questão resolve-se, de alguma forma, com a vinda de José António Camacho, já que este gosta de ter mais preeminência na gestão do plantel profissional. (De referir, que Camacho saiu do clube por divergências com José Veiga). No entanto, Luís Filipe Vieira já anunciou que Rui Costa ficará como director-desportivo na próxima época, “queira ele”. Mas, ainda não houve nenhuma resposta por parte do Rui Costa. E com a vinda de Camacho, essa posição não estará já ocupada? Nessa altura, não haverá sobreposições de cargos?

O presidente Vieira, com esta situação, sai fragilizado e só. Se, por um lado, conseguiu rentabilizar uma grande empresa, ainda não conseguiu criar condições para que a equipa de futebol consiga ganhar títulos com regularidade. Para além disso, existe alguma desorganização no clube. O senhor Vieira deveria estar mais preocupado em dar estas condições ao Benfica, do que em falar constantemente do Apito Dourado (ou não?). Será o início do fim?

21 agosto 2007

O futebol está de volta

O futebol está de volta com a Liga Bwin a iniciar-se este fim-de-semana. Para trás, ficam as férias, o peso a mais, ou mesmo, os grandes negócios que marcaram esta pausa no futebol.

Mais uma temporada, mais um ano de esperança para os milhões de adeptos do desporto-rei, em verem as suas equipas a lutar para chegarem à glória. Uns com objectivos de serem campeões, outros de chegarem aos lugares da tabela que dão acesso às competições europeias, e ainda outros, a evitarem descer de divisão. A emoção a cada jogada, as bolas aos postes e aquilo que todos queremos, os golos! Mas também, os rádios, em cada esquina, a gritarem, os pénaltis não marcados, as romarias aos estádios...

A nova temporada está marcada por muitas mudanças, especialmente, nos chamados "três grandes". Mudanças essas, que não me lembro de acontecerem há muito tempo. O nosso campeonato viu alguns dos melhores jogadores irem embora (ex. Anderson, Simão, etc.). Jogadores que vão fazer alguma falta à Liga, mas o nosso futebol é assim mesmo. Como campeonato de "segunda" na Europa, os clubes portugueses não conseguem manter os seus melhores atletas por várias razões:


  • Campeonato pouco competitivo (comparando com os campeonatos espanhol, inglês, italiano, etc.);

  • Poucas equipas de renome (tirando os "três grandes");

  • Falta de ambição da grande maioria dos clubes portugueses nas competições europeias;

  • Ordenados baixos;

  • Carga fiscal.

Estas cinco alíneas são as principais causas para o nosso campeonato não ser atraente para manter os bons jogadores ou mesmo chamar mais jogadores de renome.

Assim sendo, a política dos clubes portugueses passa por, por um lado, comprar barato para depois vender caro, como faz o F.C. Porto, indo buscar jogadores fora da Europa. Por outro lado, apostar na formação, como o Sporting. O Benfica andou, durante algum tempo, a saltar de um sistema para o outro, apostando, neste momento, no plano da formação (com a construção do Centro de Estágio).

Para o novo campeonato, os candidatos são sempre os mesmos (F.C. Porto, Sporting e Benfica). Qual deles irá ganhar, é a questão. Ou qual dos outros clubes poderá interferir na luta pelo máximo troféu português.


Na minha opinião, o Porto parece-me um bom candidato a ganhar. Pela sua história, pela manutenção da sua estrutura (que vem de há vários anos), pela estabilidade que tem dentro do balneário. Mas, mais do que isso, por não ter perdido jogadores importantes. Tirando o Pepe (era titular indiscutível e que saiu por uma soma que nem Pinto da Costa alguma vez sonharia), o Porto não perdeu mais nenhum jogador importante. Anderson era uma promessa de futuro, que ainda não tinha chegado a indiscutível, já que passou grande parte da época lesionado. Ricardo Costa não fazia parte dos planos de Jesualdo Ferreira, nem sei se alguma vez fez parte dos planos de algum treinador que tenha passado pelo Porto. Assim sendo, com a saída de Pepe, o Porto contratou o defesa Stepanov. Boa contratação, mas não creio que seja parecido com o Pepe, pelo menos não terá as mesmas características, já que Stepanov é mais forte fisicamente, mas não terá tanta velocidade do que o Pepe. O futuro dirá se este defesa se irá impor no Dragão. Para o meio-campo, chegaram Bolatti e Kazmierczack, que dão mais poder de choque do que P. Assunção e R. Meireles. Para além disso, também chegou um novo "mágico", Leandro Lima. Será ele o novo número dez do Porto, tenha ele oportunidades para jogador. Vem conotado como craque e promessa do futebol brasileiro. Para além disso, o Porto conseguiu manter as suas principais figuras (Quaresma e Lucho).

O Sporting foi, na minha opinião, a equipa que melhor se reforçou para a nova época. Para além de não ter perdido jogadores muito importantes, reforçou-se com, em alguns casos, jogadores melhores do que aqueles que saíram. Vejamos. Os leões perderam o seu guarda-redes titular. Para o lugar de Ricardo (de quem não gosto, confesso) veio o jovem sérvio Stojkovic (23 anos), que me parece francamente melhor que o, agora, guarda-redes do Bétis de Sevilha. Depois temos a saída mais relevante - Marco Caneira. O jogador que pertence ao Valência era polivante e era capaz de ocupar todas as posições do sector mais recuado da equipa. Para além de Caneira, também Tello é uma saída importante. O jogador saiu em conflito com o clube. Para substituir estes dois laterais vieram o eslovaco Marian Had e o brasileiro Pedro Silva (que já passou pela Académica sem dar muito nas vistas) e que são uma incógnita. O futuro dirá se farão esquecer os antigos laterais leoninos. No meio-campo, a entradas de Izmailov e Vukcevic só vieram reforçar em qualidade a equipa do Sporting, dando mais opções de qualidade a Paulo Bento. De realçar, também, a inclusão de (mais) um jovem médio das escolas do Sporting: Adrien (nome a recordar!). Para o ataque, a entrada Purovic parece-me também acertada, pelo menos parece-me melhor que qualquer um dos avançados que estavam na equipa no ano passado (Alecssandro e Bueno). Por fim, a entrada de Derlei. (É só por acaso que ficou para último). Derlei é um avançado que dá tudo o que tem e o que não tem em campo. Batalhador, nunca dá uma jogada por perdida. É um bom avançado, sem dúvida, e é muito melhor do que os dois que passaram pelo Sporting na época passada e que já referi. No entanto, não creio que voltemos a ver o Derlei dos tempos do Porto (devido à idade mas ,especialmente, à grave lesão que teve enquanto jogou na Rússia).

Para além do bom reforço da equipa, o Sporting (mais concretamento, o seu treinador) vive uma situação que os outros dois treinadores (Porto e Benfica) não têm. Nesta altura, Paulo Bento é um treinador querido junto da massa adepta, como há muito não se via pelos lados de Alvadade, o que lhe dá alguma margem de manobra.




No que toca ao Benfica, uma nova época é sinónimo de uma nova esperança. A surpreendente permanência de Fernando Santos não lhe dá muita margem de manobra para a nova época. O treinador não é querido junto dos adeptos e, ao contrário de Paulo Bento, não terá margem para errar. O clube fez um grande esforço para reforçar a equipa, tendo em conta que perdeu jogadores muito importantes. Será dos três grandes a equipa que menos hipóteses terá de chegar à glória no fim do campeonato. Em primeiro, nota-se alguma desconexão entre o treinador e o presidente, bem patente com a saída de Simão. A saída do ex-número 20 encarnado é a maior baixa. Simão era um jogador destabilizador, era o motor da equipa quando esta estava parada. A meu ver, a sua saída foi boa para o jogador (no entanto, não me parece que tenha escolhido o clube certo), mas também foi boa para o Benfica. Em caixa, entram 20 milhões de euros e uma poupança de alguns milhões em ordenados, daquele que era o jogador mais bem pago do plantel.

Para além da saída de Simão, as saídas de Miccoli e Karagounis afectaram a equipa pela negativa. Depois veio a saída de Manuel Fernandes, um dos melhores reforços, que saiu de um dia para o outro. Mais uma vez, não houve consonância entre treinador e presidente, já que o treinador não soube de nada atempadamente.

No que toca a reforços, o Benfica foi buscar vários bons jogadores, mas que pecam pela sua juventude. No que toca à baliza, os encarnados começaram por dispensar o guardião Moretto, ficando com Quim e Moreira e mais um jovem, mas dias mais tarde chegou o alemão Butt, voltando tudo à mesma situação (terem três guarda-redes que podem ser titulares, levando à insatisfação por parte de quem não joga). Na defesa, a vinda de Marc Zoro parece-me uma boa contratação, já que é um defesa bastante forte fisicamente, característica que nem Luisão, nem David Luiz têm. A vinda do outro central, Sretenovic, acaba por ser uma incógnita, estando mesmo na lista de dispensados. Quanto ao lado direito da defesa, a contratação de Luis Filipe também me parece boa. O ex-jogador do Braga demonstrou nas últimas duas épocas o seu real valor, numa posição que não era originalmente sua. Para o meio-campo, com a saída de Manuel Fernandes, perspectivam-se novas entradas na equipa, já que o argentino Andrés Díaz (contratado nesta pré-época) poderá ser também dispensado. Para além disso, um dos reforços de peso do meio-campo é um jogador que já estava na casa - Nuno Assis. Há também a ter em conta a vinda da jovem promessa americana - Freddy Adu -, que para além de grande aposta de marketing, poderá ser muito útil (tenha ele tempo e espaço para se adaptar ao futebol europeu). Outro jovem recém-entrado foi Fábio Coentrão. Brilhou na Segunda Divisão na época anterior e no Mundial sub-20, já demonstrou nos poucos jogos de preparação, ser um reforço para a equipa. No ataque, o nome mais sonante é Óscar Cardozo. Pé esquerdo fortíssimo, alto, bom de cabeça, é o avançado que o clube da Luz há muito procurava (espero eu). Para colmatar a saída de Miccoli, veio Bergessio. Lutador, não é um avançado goleador, nem tão pouco parecido (em termos de qualidade com o Miccoli), mas é mais uma opção. Para a saída de Simão entrou Dí María. Jovem argentino que brilhou no Mundial sub-20 (a Argentina venceu o Mundial), Dí María ainda não pode demonstrar a sua qualidade futebolística, devido a uma lesão muscular, contraída durante o Mundial. No entanto, tal como Adu, os adeptos deverão ter alguma calma, já que é jovem e não conhece a realidade europeia.

No que toca às outras equipas, há a realçar o Sp. Braga que conseguiu manter grande parte da estrutura da época passada. Jogadores como João V. Pinto, Madrid, Wender continuaram na equipa. A eles, juntaram-se César Peixoto, João Pereira, João Tomás e Zé Manel. O Braga poderá continuar a ser a equipa com mais hipóteses de se intrometer na luta pelo título. Outro histórico português é o Belenenses. A equipa de Belém habituou-nos a jogar bom futebol na época transacta. Continuará esta época? Para os lados de Belém a maior baixa é a saída (algo atribulada) de Dady. No entanto, a equipa reforçou-se bem, já que entraram o médio Hugo Leal (livre), o central Devic (ex-Beira-Mar) e o avançado Mendonça (ex-Varzim).

Para além do Belenenses, também o Paços de Ferreira e o Nacional poderão surgir como candidatos aos lugares europeus, tal como, o renascido V. Guimarães.

Por seu lado, o Leixões terá vida difícil para se manter no primeiro escalão do futebol nacional. Os jogadores que mais poderão ajudar a equipa são o avançado Roberto (melhor marcador da Segunda Liga, na época passada) e Vieirinha.

Por fim, Est. Amadora, V. Setúbal, Naval, Académica, Boavista, Marítimo (que teve a entrada daquele que foi uma promessa para o futebol nacional, o avançado Makukula) e U. Leiria vão lutar pelos lugares de meio da tabela, não sendo nenhuma surpresa se alguma destas formações descer para a Segunda Liga, já que pouco ou nada se reforçaram.

Agora que a análise está feita, que comece o espectáculo...