06 outubro 2007

Os monges saíram à rua


Nos últimos meses têm-se multiplicado as notícias vindas do sul da Ásia, mais propriamente de Myanmar.

Myanmar é, actualmente, dirigida por uma junta militar, que se auto-intitula Conselho de Estado para a Paz e o Desenvolvimento. Esta junta é composta por dezanove generais, liderados pelo septuagenário Than Shwe. Durante muitos anos, a mais antiga ditadura militar do mundo criou laços com a hierarquia religiosa do país, investindo na reabilitação e construção de templos. Era para eles, uma forma de limparem as suas almas. (De referir, que Myanmar é um país muito religioso e que os monges são, a seguir à junta militar, o grupo com maior poder no país).

Os protestos começaram a 5 de Agosto, quando a junta militar decidiu aumentar o preço dos combustíveis para o dobro. Durante uma dessas manifestações, três monges foram feridos involuntariamente. Foi o suficiente para os monges saírem às ruas das principais cidades do país e juntarem-se à população civil. (Há a ter em conta que Myanmar é um dos países com a população mais pobre da Ásia. No entanto, tem uma riqueza incalculável, desde petróleo, pedras preciosas e gás natural (estima-se que as jazidas de gás natural representem 10% das reservas mundiais).

A resposta dos militares foi brutal. O país foi literalmente fechado ao exterior. Os servidores de Internet foram deitados a baixo, cortaram-se as comunicações telefónicas internacionais, perseguiram-se e calaram-se os jornalistas, apreenderam-se telemóveis, computadores e máquinas fotográficas, cercaram-se mosteiros, detiveram-se monges e opositores. Conclusão: oficialmente, nove pessoas morreram. Mais de 200, segundo os movimentos dissidentes.

A nível internacional pouco ou nada se tem feito (tirando as “sempre” “inúteis” sanções). A comunidade internacional tem tido muito cuidado neste caso. E existem razões para isso. Então vejamos. Desde a independência da Birmânia, em 1948, que a única instituição a funcionar como unidade interna do Estado e da sua integridade territorial são as Forças Armadas. O país apresenta uma das maiores diversidades étnicas do mundo. Mesmo o maior grupo de oposição, a Liga Nacional para a Democracia, liderada pela prémio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, não tem, ainda, uma organização unitária. Assim, percebe-se o temor da comunidade internacional, que receia um vazio no poder, susceptível de iniciar um processo desintegrador, capaz de ameaçar a segurança na região.

No entanto, outros interesses se sobrepõe. A Rússia e a China já manifestaram o seu desagrado, no caso de sanções por parte da ONU. Totalmente compreensível, já que a China é dos principais apoiantes da junta militar birmanesa. Para além disso, tem avultados investimentos no país. Mas terá a comunidade internacional coragem de enfrentar a China e a Rússia? Até agora parece que não… É por isso, que temos de ser nós (opinião pública) a não deixar, estes temas, caírem no esquecimento.

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