08 março 2008

Tons de mudança

Depois de algumas semanas de afastamento, por obrigações académicas, estou de volta ao activo. Depois de alguns leitores terem manifestado alguma tristeza por esta paragem momentânea, espero ter mais tempo disponível, a partir de agora, para o blogue. Para minha infelicidade, os dias só têm 24 horas.

Durante estas semanas, foram inúmeros os acontecimentos marcantes que foram noticiados, uns mais do que outros, pelos media internacionais. Seria humanamente impossível e tornar-me-ia repetitivo escrever sobre todos eles ou mesmo sobre os mais importantes. Desta forma, para este regresso, decidi trazer quatro temas que poderão ser o início de novas etapas, em diferentes regiões do globo.

Em primeiro lugar, o acontecimento mais significativo foi o afastamento, por vontade própria, de Fidel Castro, de todos os cargos de poder da República de Cuba. Este afastamento, para já, e ao que tudo indica, será só aparente, já que Fidel, líder incontestado da revolução cubana, continuará a opinar sobre os acontecimentos que marcam o dia-a-dia do país no jornal do Partido Comunista Cubano e terá sempre influência, no rumo a dar a Cuba. Para o seu lugar, foi eleito, no passado dia 24 de Fevereiro, o seu irmão Raúl Castro, de 76 anos, que já estava a chefiar o Conselho de Estado, em substituição de Fidel, devido à doença deste último.

Goste-se ou não da pessoa ou das suas ideologias socialistas, Fidel Castro marcou a história do século XX, pela coragem que sempre demonstrou em fazer frente aos todo-poderosos Estados Unidos da América (EUA), em nome dos “oprimidos” ou do movimento dos não-alinhados. Após 49 anos de poder, Fidel afasta-se, pelo menos dos cargos políticos. Este facto é o virar de página da história cubana. Não é o fim, nem sequer o início do fim da ditadura, mas poderemos estar perante o início de algumas mudanças da ideologia comunista que governa o país. Haverá uma abertura gradual ao exterior. É, sem dúvida, a modernização do regime, tal como, sucedeu na China. Os próximos anos nos esclareceram…




Em segundo lugar, e menos mediático que o primeiro, foram as eleições presidenciais em Chipre. A subida ao poder de Demetris Christofias, poderá ser uma viragem para o país, situado no mar Egeu, e dividido desde 1974. A sul da ilha, a República de Chipre (pró-grega), reconhecida pela comunidade internacional e membro da União Europeia desde 2004, a norte, a República Turca de Chipre do Norte (pró-turca), reconhecida unicamente pela Turquia. Os dois Estados têm como capital, Nicósia, que é a última capital europeia dividida. Em 1974, reagindo a um golpe dos cipriotas gregos, que queriam a união com a Grécia, a Turquia invadiu a ilha, ocupando a parte norte.

Christofias já demonstrou vontade em encontrar-se com o seu homólogo do norte, algo impensável, com o anterior chefe de Estado, Tassos Papadopoulos. Com esta eleição, a população do lado grego, demonstrou vontade de mudança, relativamente ao processo de reunificação. Os próximos meses serão decisivos…



O terceiro exemplo que trago aqui e que demonstra alguma mudança na política internacional em algumas partes do globo, é a recente visita do Presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, ao Iraque. Pela primeira na história, um presidente iraniana pisou solo iraquiano. Um marco histórico que durou quarenta e oito horas e que representa a reaproximação de dois países que já foram inimigos. Para além disso, há a realçar duas consequências desta mesma visita. Em primeiro lugar, a possível aproximação entre o Irão e os EUA, tendo o Iraque como intermediário. Nos últimos meses, foi notório o apaziguamento das relações entre Irão/EUA, nomeadamente no que toca à questão do programa nuclear iraniano, tendo os EUA apresentado um relatório dos seus serviços secretos realçando o fim desse mesmo plano em 2003.

A segunda questão a realçar desta visita de Ahmadinejad ao Iraque, serve para demonstrar um certo ascendente do seu país naquela região. Com o ataque dos EUA ao Afeganistão e ao Iraque – afastando regimes políticos hostis a Teerão – proporcionaram ao Irão uma importância regional que não tinha até agora. Mais visitas entre os dois governos se perspectivam nos próximos tempos…



Por fim, e como último caso de mudança, temos a Coreia do Norte. A Coreia do Norte é uma ditadura socialista rigidamente centralizada, com o poder nas mãos de Kim Jong Il. Parece surpreendente, mas é verdade. O regime coreano entreabriu as portas do país para acolher um concerto da Filarmónica de Nova Iorque em Pyongyang, capital norte-coreana. Tal como no exemplo anterior (do Irão), aqui também verificamos algum desanuviamento das relações entre os EUA e a Coreia do Norte (tal como o Irão, membro do denominado (pelos EUA) “Eixo do Mal”). Este evento marcou a primeira deslocação da maior instituição cultural norte-americana àquele território. Além disso, esta deslocação significou a maior presença de cidadãos norte-americanos em solo norte-coreano, desde o fim da guerra da Coreia, em 1953. Para 2009, Kim Jong Il vai reabrir as portas do país para outro concerto, e desta vez será… Eric Clapton.

1 comentário:

Ricardo Lima disse...

Castro nunca jogou pelos não-alinhados. Andou a passear o exército cubano por Africa enquanto que condições de vida razoáveis em Cuba nem vê-las. Tal e qual Nehru e Nasser, outros dois fundadores do movimento que andaram a vida inteira de braço dado com Krushev.

Teerão...ainda viverei para ver tanques da NATO naquelas ruas :D
Não como invasores mas como forças de pacificação depois de uma revolução bem sucedida.

E lá estou eu a sonhar demasiado.

Parabéns pelo Blog