22 junho 2012

Um ano!

 
 
Mãe,
 
Faz hoje um ano que partiste...
Um ano de algumas alegrias, mas acima de tudo, de emoções fortes, muito diferentes e antagónicas, entre tristezas, alegrias e saudade.
 
Tristeza por teres partido, quase sem te despedires, por não teres vivido tudo aquilo que desejavas e por teres marcado presença em todas as mudanças/alegrias que tivemos no último ano, por não poderes acompanhar as nossas "novas" vidas, dando-lhes mais alegria e cor.
 
Saudades, de ir a casa ao fim-de-semana e ter um prato de comida à minha espera, de nos tratares por "o meu João" ou "o meu Dário". Do teu carinho, da tua tranquilidade. Das idas ao supermercado, nos quais eu "refilava" contigo, dizendo-te que tinha muitas coisas para fazer e não tinha tempo para andar de um lado para o outro. E até das nossas constantes viagens ao IPO de Coimbra, na tua luta heróica contra a doença. Só tu sabes o quanto lutastes, o quanto sofrestes física e psicologicamente durante cinco anos. Saudades de ouvir a tua voz (quantas vezes eu desejo que, quando ligo para casa, pedir ao pai ou ao Dário, para te passarem o telefone)...
 
Há um ano, poucas horas antes do teu funeral, escrevi que a luz de um farol se tinha apagado e que a partir de agora outros nos iriam guiar. Hoje, sei que deixaste de ser o nosso farol, que nos guiava no meio das tempestades, mas tornaste-te numa estrela, sempre presente e brilhante, continuando a mostrar-nos o melhor caminho a seguir.
 
Até sempre...





PS: agradeço todo o apoio de familiares e amigos ao longo do último ano e a todos os que, constantemente, me incentivaram a voltar a retomar este blogue, partilhando os meus pensamentos e as minhas/nossas passagens de vida...

22 junho 2011

Maria Margarida Figueiredo: 23/10/1962 - 22/06/2011




Querida Mãe,


Neste dia de dor e sofrimento, a tua partida representa para nós a perda de uma referência, de um farol que nos encaminhava para um porto seguro, reconfortante e que nos guiava no meio das tempestades.


Hoje, esse farol apagou-se. Não te escondo que ficamos todos à deriva. Mas também sei que outros faróis se irão iluminar. Não serão iguais, é certo. Não terão uma luz tão intensa, é impossível. Mas sabemos que nos ajudarão a seguir as nossas viagens.


Quando penso na tua partida, não te escondo a tristeza que tenho de perderes todos os acontecimentos que ainda tinhas pela frente. Desde os nossos casamentos, o aparecimento dos netos (de que tanto falavas e desejavas), ou simplesmente, de gozares aquilo pelo que tanto lutastes.


Essa luta levou-te a saíres do País, a trabalhares incansavelmente, sempre com o objectivo de proporcionares um futuro melhor para mim e para o Dário. Ensinaste-nos a batalhar neste mundo tão cruel e injusto, a lutarmos pelos nossos objectivos, pelo nosso futuro mas também a sermos humildes e amigos dos nossos amigos.


Hoje, não encontro as palavras certas, nem suficientes, para te agradecer aquilo que fizeste por nós, ao longo dos teus, curtos, quarenta e oito anos. Só me resta dizer-te que sentimos muitas saudades tuas e que nos acompanharás, para sempre, nos nossos corações.


Amamos-te,


Filhos e marido

04 abril 2011

"Geração à Rasca: A Nossa Culpa", Mia Couto



"Um dia, isto tinha de acontecer.

Existe uma geração à rasca?

Existe mais do que uma! Certamente!

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustações.

A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram, tudo.

Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.


Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.


Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.


Foi então que os pais ficaram à rasca.

Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.

Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.


São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer «não». É um «não» que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!


A sociedade colhe assim, hoje, os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.

Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.

Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.

Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.

Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.

Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.


Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?

Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!

Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus cotemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.


E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!


Novos e velhos, todos estamos à rasca. Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.

A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.

Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.

Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma generalização injusta.

Pode ser que nada/ninguém seja assim."


Mia Couto

22 agosto 2010

Carrega Benfica!


Irritação, tristeza, frustação... Esses são alguns dos adjectivos que se poderão aplicar ao sentimento actual da grande maior parte dos benfiquistas. Pelo menos, é esse o meu estado de espírito, após as duas derrotas no campeonato, perante a Académica (em casa) e o Nacional (fora).
Muita tinta tem corrido, desde ontem à noite, após o apito final do jogo que ditou a segunda derrota do Benfica, no presente campeonato. Duas derrotas, em dois jogos. Três derrotas, em três jogos oficiais. Os comentadores apresentam as suas teorias do que poderá estar mal e dos possíveis erros que, tanto Jorge Jesus, como Rui Costa e Luís Filipe Vieira cometeram e levaram este Benfica a entrar em "crise". O Roberto já foi crucificado e, segundo notícias de última hora, já estará a preparar as malas para voltar a Espanha. E, quem sabe, seja acompanhado pelos reforços...

Muito se podia especular e se tem especulado sobre a actual situação do Benfica e sobre toda a preparação da nova época. São muitas as teorias e, acredito que todas tenham uma ponta de verdade. É verdade que as saídas de Dí Maria e Ramires não foram devidamente compensadas, a chegada tardia dos jogadores que tiveram no Mundial veio dificultar a preparação da nova época, a má forma de alguns dos jogadores mais influentes, a aposta no reforço da equipa com jogadores mais jovens (logo, para o futuro) em detrimento de jogadores que lutassem, de caras, por um lugar no onze, ou mesmo, a má forma de Roberto. (Sim, má forma. Não acredito, ou não quero acreditar, que o Roberto tenha sido contratado sem ter sido criteriosamente observado. Estamos a falar de um jovem guarda-redes que foi titular do Atl. Madrid - perdendo a titularidade após uma lesão - e fez um grande final de época no Saragoça. O Quim também teve muitos deslizes, tendo mesmo passado por uma fase idêntica. O Eduardo (actual titular da Selecção) teve vários momentos infelizes durante a época passada, para não falar do "grande herói nacional", do Euro 2004, o Ricardo, ou mesmo, o próprio Hélton, titularíssimo do FC Porto).

Todas estas razões são válidas e poderíamos acrescentar muitas outras. No entanto, há uma que gostaria de acrescentar e que tem feito toda a diferença, relativamente à época passada. Essa diferença tem haver com o estado de espírito dos adeptos e do apoio que têm dado. Refiro-me ao entusiasmo que os adeptos demonstraram durante toda a época passada, desde a primeira à última jornada. O "andor", como lhe chamou, ao longo da época transacta, o Dr. Rui Moreira, no programa Trio d'Ataque. Esse "andor" perdeu-se, e não quero acreditar que tenha sido, só, pelos maus resultados da pré-época. É esse 12º jogador que tem faltado, e que não esteve presente ontem à noite no Estádio da Choupana e contra a Académica, na Luz. É esse "andor", que faz a força do Benfica e do Estádio da Luz, um verdadeiro inferno. É esse "andor" que os dirigentes do Benfica e o próprio Jorge Jesus, não conseguiram reanimar, neste início de época.

Neste momento difícil, é fácil crucificar um ou outro jogador, mas será mais fácil, todos os benfiquistas se unirem, tal como o fizeram (e bem) durante a época passada, e apoiarem o Benfica, em qualquer lugar que ele jogue, para repetirmos os momentos inesquecíveis, como o foram as enchentes ao estádio de Guimarães, Beleneneses ou Leiria.

30 julho 2010