23 agosto 2007

Saída anunciada?


Terá sido mesmo uma surpresa? Parece que só Fernando Santos ficou surpreendido com a sua demissão.

Foi preciso jogar-se a primeira jornada do campeonato nacional, para o presidente encarnado despedir o treinador Fernando Santos. Mas será que o culpado pelos maus resultados é mesmo Fernando Santos. Será que a “crise” encarnada não é mais profunda do que parece? Vejamos a questão mais aprofundadamente.

Em primeiro lugar, é necessário ver algumas questões estruturais, nomeadamente, no que toca aos adeptos. O Benfica tem uma massa adepta que vive a paixão pelo seu clube de uma forma muito diferente do que qualquer outro clube em Portugal. Não é que seja mais apaixonado ou não, simplesmente, vive de uma maneira muito diferente. Essa paixão tão intensa leva ao estrangulamento da própria equipa e do clube. É uma sensação difícil de descrever. Desta forma é muito difícil, à partida, treinar ou jogar no clube. Qualquer substituição errada (na opinião dos adeptos) ou qualquer mau passe de um jogador é severamente punida com uma monumental assobiadela. Não é por acaso que muitos treinadores ou jogadores passaram pelo “Glorioso” e que não foram felizes, demonstrando o seu real valor noutros clubes. Fernando Santos foi mais um treinador que não conseguiu entrar para as páginas douradas do clube da Luz.

Em segundo lugar, o treinador Fernando Santos nunca foi bem amado no clube. Desde que assumiu a posição de treinador, há um ano atrás, que os adeptos nunca gostaram dele. Nunca foi uma escolha bem vista para os lados do terceiro anel. Treinador pouco carismático, nunca foi compreendido pelos adeptos e a sua permanência na equipa técnica, no fim da época passada, foi (aí sim!) uma surpresa.

No entanto, a questão para esta instabilidade vem não do treinador, mas sim, da organização do clube. Ou, da falta dela. No sábado, após o jogo com o Leixões, o capitão da equipa (Nuno Gomes) veio dizer que a equipa não teve tranquilidade desde o início da pré-época. Mas, para quem foram estas palavras? Para o treinador? Para o presidente? Para os adeptos? Para a comunicação social? Aquilo que poderemos dizer à primeira vista, é que o Nuno Gomes colocou o dedo na ferida. Durante toda a pré-época, o Benfica não saiu das páginas dos jornais, e não por questões de contratações, como é habitual durante esta época. Questões como a OPA de Joe Berardo sobre o clube e as declarações deste em relação ao Rui Costa e à equipa, por exemplo, não devem ter ajudado muito. Para além disso, a saída de Simão Sabrosa que, sabe-se agora, com a entrevista de Fernando Santos à RTP, nunca, neste defeso, demonstrou intenções de sair do clube. Quando Fernando Santos dizia que perder Simão seria um verdadeiro pesadelo, não estaria à espera que dois dias depois, o perdesse mesmo. Depois, veio o caso Manuel Fernandes que, é convocado para o jogo com o FC Copenhaga de manhã e à tarde já está com um pé no Everton, sem que o treinador tenha sido avisado antecipadamente. Algo curioso, não?

O verdadeiro culpado desta situação é o presidente Luís Filipe Vieira que nunca deveria ter mantido o treinador Fernando Santos no seu posto, no fim da última época. José António Camacho já deveria ter iniciado a época. Para além disso, não deveria delegar a chefia do futebol profissional na sua pessoa, tal como o Fernando Santos referiu na entrevista acima referida. Luís Filipe Vieira não tem competências para dirigir o futebol, o clube e, para além disso, a sua carreira empresarial, ao mesmo tempo. Por isso, a saída de José Veiga de director-desportivo foi uma grande baixa para o clube. Goste-se ou não dele e do seu estilo, era uma pessoa que tinha conseguido manter o plantel tranquilo e “blindado”. Essa questão resolve-se, de alguma forma, com a vinda de José António Camacho, já que este gosta de ter mais preeminência na gestão do plantel profissional. (De referir, que Camacho saiu do clube por divergências com José Veiga). No entanto, Luís Filipe Vieira já anunciou que Rui Costa ficará como director-desportivo na próxima época, “queira ele”. Mas, ainda não houve nenhuma resposta por parte do Rui Costa. E com a vinda de Camacho, essa posição não estará já ocupada? Nessa altura, não haverá sobreposições de cargos?

O presidente Vieira, com esta situação, sai fragilizado e só. Se, por um lado, conseguiu rentabilizar uma grande empresa, ainda não conseguiu criar condições para que a equipa de futebol consiga ganhar títulos com regularidade. Para além disso, existe alguma desorganização no clube. O senhor Vieira deveria estar mais preocupado em dar estas condições ao Benfica, do que em falar constantemente do Apito Dourado (ou não?). Será o início do fim?

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