27 novembro 2007

Muito se falou, nos últimos dias, sobre aquela que poderá vir a tornar-se a frase mais polémica e conhecida das relações internacionais (já é toque de telemóvel, com um êxito estrondoso).

Foram muitos os debates e comentários sobre o assunto. Uns a favor do Rei Juan Carlos, outros em defesa de Hugo Chávez. Quem terá razão? Nenhum. Quem ficou a ganhar? Sem dúvida, o presidente venezuelano, que mais uma vez consegue irritar-nos.

As ilações a tirar, em primeiro lugar, são que o Rei Juan Carlos foi contra todos os manuais de protocolo e todas as regras básicas de boa educação, ao mandar calar um Chefe de Estado (que muito defendem, democraticamente eleito (mas chegado ao poder através de um golpe de estado e constantemente reeleito através de muitas pressões junto dos cidadãos venezuelanos)). No entanto, o rei fez aquilo que muitos de nós (opinião pública), e muitos dos dirigentes dos países ocidentais, gostariam de ter feito, mas que em nome da “realpolitik”, nunca se atreveriam a fazer, já que seria quebrar as relações diplomáticas com um dos países com maiores stocks de petróleo do mundo. Sem querer fazer do Rei Juan Carlos um herói, bem pelo contrário, também não o quero crucificar, como vi durante estes dias, em muitos medias. Para além disso, e para os mesmos que quiseram “acabar” com o rei espanhol, Chávez também ele não esteve bem. Que eu saiba, quando outra pessoa está a falar, não se interrompe. Mas vindo dele, não tem importância, já que ele é um anti-Estados-Unidos, anti-globalização e, talvez, anti-tudo o que mexa neste mundo.

O segundo ponto a realçar, e talvez o mais importante, é a importância desta “cumbre” Ibero-americana. Para que serve? Qual a sua finalidade? O que defende? Ainda não percebi. O que sei, é que foi um fracasso total e só foi notícia devido ao sucedido. Esta cimeira, mais pareceu uma luta entre o Império espanhol e as suas colónias, com sede de independência. Para além de Chávez, também o Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega (“companheira de estrada” de Chávez), levou o Rei espanhol a abandonar a sala. Esta cimeira demonstrou a crescente mudança nas lideranças dos países sul-americanos, passando estes a ter à sua frente políticos populistas que não sabem o significado de palavras como democracia ou liberdade de expressão (Bolívia, Venezuela, Nicarágua e a mais antiga, Cuba). (Antes que me acusem de defender os chamados países ocidentais, relembro uma das citações mais conhecidas de Winston Churchill: "A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos")

Há também a ter em conta, a falta de firmeza da presidente chilena, Michelle Bachelet, que deveria ter interrompido Chávez, para evitar o sucedido, e para este deixar o primeiro-ministro espanhol, José Luís Zapatero, falar.

No entanto, lá temos que engolir com estes senhores, em nome da já referida “realpolitik”, já que eles têm petróleo e gás natural.



PS: enquanto escrevo estas linhas, passam imagens no telejornal, de confrontos na Venezuela, entre a polícia e manifestantes, contra a nova Constituição que poderá levar Chávez a perpetuar-se no poder.

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