10 outubro 2009

Um Concelho com o futuro em perigo...


Terminou finalmente a campanha eleitoral para as autárquicas de amanhã. Terminaram as arruadas, as músicas parolas e os folhetos a entupir as caixas do correio. Chegou, finalmente, o dia de reflexão, ou melhor, o dia do descanso total.

Não sei se o dia de reflexão serve para realmente reflectir sobre o sentido de voto dos portugueses. Sinceramente, nunca pensei muito sobre o assunto. Será que a campanha deveria estar de pé até as pessoas colocarem o seu voto na urna, como acontece nos Estados Unidos? Não sei bem. Como disse anteriormente, nunca pensei muito sobre o assunto. Contudo, acho que ainda prefiro assim. O dia de reflexão é, para mim, o dia da ressaca da campanha eleitoral. Depois de quinze dias de parolândia, de ouvir candidatos medíocres e sem ideias (para não lhes chamar outras coisas) (e que os Gatos Fedorentos ridicularizaram, para todo o País ver, o quanto são péssimos, os governantes das nossas autarquias) debitarem programas, como se eles tivessem poder para mudarem este mundo e o outro.

Espelho desta realidade é São Pedro do Sul, concelho no qual sou eleitor e que retrata perfeitamente muitos dos problemas do País. Recentemente elevada a cidade, por deputados com vontade e, talvez, necessidade em mostrar trabalho na Assembleia da República, e que, talvez, até, nem conheçam esta pequena vila (se conhecessem e se tivessem um mínimo de rigor, não teriam proposto a candidatura de elevação a cidade), foi palco de uma campanha com quatro candidatos, já que a candidatura do CDS-PP decidiu não ir a votos.

Começando pelo actual partido no poder – PSD –, o actual Presidente de Câmara, Dr. António Carlos Figueiredo, vai a votos pela última vez, tal como 60% dos candidatos a estas eleições em todo o País. Sem apresentar nada de relevante nos dois mandatos anteriores (tirando obras “em cima do joelho”, mal projectadas e que vieram destruir a beleza natural do Concelho), o candidato do PSD sairá, sem grandes surpresas, vencedor. O facto da Câmara Municipal ser o maior empregador do Concelho terá muito a ver com o resultado de amanhã. Não tenho muitas dúvidas sobre isso. Vejamos o facto de 80 funcionários da Câmara terem estado de férias, nos últimos quinze dias, para estarem “na estrada” durante a campanha.

No principal partido da oposição, o PS, o candidato José Carlos Almeida, conseguiu fazer um levantamento dos principais problemas do Concelho e propor ideias e projectos que parecem importantes para o bom desenvolvimento do Concelho. Contudo, programas são programas e, na maior parte das vezes, não são seguidos. Poderá ter a seu favor o natural desgaste do actual executivo camarário. Os pontos contra poderão incidir sobre o facto de, mesmo sendo “da terra”, não ser conhecido de grande parte dos eleitores. O outro ponto que poderá jogar contra o PS, é o facto dos (ex?) militantes do PS, Dr. Bandeira Pinho e Dr. Rui Costa, se apresentarem nas listas do Bloco de Esquerda.

Relativamente ao Bloco, o facto de apresentar os dois candidatos citados anteriormente, poderá levar a uma significativa passagem de votos do PS para o Bloco. Será interessante perceber até que ponto os eleitores irão dar um voto de confiança ao Dr. Bandeira Pinho e se esquecerão que este foi o anterior presidente da Câmara e que também tem uma fatia assinalável de culpas da situação de apatia que o Concelho atravessa há pelo menos vinte anos. Com isto, só me apetece dizer “Há quem não tenha vergonha na cara…”.

Quanto ao último partido em jogo, o PCP, apresenta o candidato do costume, o Garcia Pereira sampedrense, Eduardo Boloto. O objectivo? Talvez não perder mais votos, do que aqueles que obteve na anterior eleição.

As eleições de amanhã vão ser cruciais para o Concelho de São Pedro do Sul, já que o futuro do Concelho está em jogo e, ao mesmo tempo, em perigo.

09 outubro 2009

Campanha eleitoral em São Pedro do Sul

Comentei no site de campanha do PS, no dia 9 de Setembro de 2009:

Caro Dr. José Carlos Almeida,

Parece que vamos ter mais uma campanha em que vale tudo e em que a estratégia eleitoral passa por, só, dizer mal do executivo camarário (pelo menos é o que vemos neste blogue).

Mas,

- Quais são as suas ideias para São Pedro do Sul?

- Qual a sua política para a juventude, que cada vez mais tem de sair de São Pedro do Sul para ter alguns horizontes?

- Qual o seu modelo de desenvolvimento para as Termas?

- Qual a sua aposta para o desenvolvimento do Concelho (Turismo ou Indústria, os dois ou outro)?

- Qual a sua opinião e, posteriormente caso seja eleito, sobre o número exagerado de funcionários municipais, que levam a uma total ineficiência dos serviços?

- Qual a sua política educativa e cultural?


Em resumo, qual é o seu projecto para tirar São Pedro do Sul deste "coma profundo", em que se encontra há vinte anos?



Resposta do Dr. José Carlos Almeida ao meu comentário, no dia 11 de Setembro de 2009:

Meu caro amigo João Figueiredo, vejo que é um jovem preocupado com a nossa terra, estudante de áreas que lhe permitem ter uma visão do mal crónico de que S. Pedro padece há muito. Isto por falta de uma estratégia, mas, pior do que isso, por uma falta de gosto pelo concelho, por uma gestão interesseira de amigos, esquecendo-se do concelho real, assistindo ao esvaziar de oportunidades que outros concelhos limítrofes têm conseguido.S. Pedro do Sul tem potencialidades endógenas, como sejam: as termas, o rio, a montanha, as nossas aldeias que, com planos integrados de desnvolvimento, criarão riqueza e emprego para os seus filhos. É urgente criar as novas vias externas comunicando com Viseu, a A25 e a A24, por Pindelo. Estas acessibilidades tornarão o concelho atractivo ao investimento externo, nomeadamente indústria. Nós queremos indústria com novas tecnologias que crie postos de trabalho que venham de encontro à aspiração dos nossos jovens e que preserve o nosso meio ambiente; emprego estável e de qualidade superior.Todo este desenvolvimento fará um concelho desenvolvido quer no campo industrial quer no campo turístico. E aqui é fundamental um PDM (que não existe) que preserve o seu potencial turistíco, que o não destrua como temos vindo a assistir nos últimos anos. Por isso tem de ser um plano de desenvolvimento integrado.As termas são um potencial ainda muito por explorar: melhorar a qualidade dos serviços prestados aos nossos aquistas, criar novas respostas: piscinas de água aquecida que permitam o seu uso todo o ano. Para isso é necessário a desinfestação dos rios, urgente resolver o saneamento básico. Procura de outras respostas no campo da energia.Um novo olhar para as respostas que são necessárias para os nossos idosos: unidade móvel de saúde. Respostas às nossas crianças e familias com a criação de creches, ATL... Em relação aos funcionários da Câmara, uma palavra de esperança: todos vão ser necessários para a construção de um S. Pedro novo. Há muito trabalho e projectos a fazer e muito apoio às freguesias a realizar. Serão precisos todos e todos se sentirão necessários para o seu concelho.A minha visão humanista não persegue o homem, antes procura integrá-lo. E todos não seremos demais para os desafios que aí vêm. O povo nos dará a sua confiança, tenho a certeza.



Respondi ao Dr. José Carlos Almeida no site de campanha do PS, no dia 11 de Setembro de 2009:

Caro Dr. José Carlos Almeida,

Vejo que apresenta algumas ideias que, também, me parecem essênciais para o desenvolvimento de São Pedro do Sul, isto é, abrir S. Pedro para o mundo.

Contudo, não posso concordar consigo relativamente à segunda parte do seu texto. Peço desculpa dizê-lo, mas, não passa de demagogia. Eu percebo. Não quer perder votos. É uma proposta que nenhum candidato, alguma vez faria, sob pena de morrer antes da guerra começar. Mas é demagogia.

Para haver um desenvolvimento brutal (que é isso que S. Pedro precisa, para não ficar ainda mais atrasado), terá que haver um corte, também ele, brutal nas despesas. Quais serão, então? Vai obrigar os funcionários trazer papel higiénico de casa, como acontece na Câmara Municipal de Lisboa?! A questão dos funcionários, não é só uma questão de despesa, é também uma questão de eficiência. Eficiência de um serviço prestado à comunidade, que deve ser de qualidade. E, neste momento, não o é. Nem em São Pedro do Sul, nem na maioria dos serviços públicos, seja na Administração Central ou Local (salvo honrosas, muito honrosas, excepções). Porquê? Porque são demasiados e sem competências para os lugares que ocupam.

Dói? Claro que dói. Especialmente, em tempos de crise. Mas, a crise não irá durar para sempre... E, tanto, São Pedro do Sul como Portugal precisam de líderes, grandes líderes, que saibam tomar as decisões certas, mesmo que isso possa doer.

30 setembro 2009

Notícia do mês de Setembro


O líder líbio Muammar Kadhafi afirmou na cimeira do G8, em Áquila, Itália, que "a Suíça é uma máfia internacional e não um Estado. É preciso desmontá-la e partilhá-la entre a Alemanha, a Itália e a França. É a fonte do terrorismo material".


Asharq Al-Awsat, Londres (cit. in Courrier Internacional, nº 163, p. 18)

31 agosto 2009

Frase do mês de Agosto (V) - a melhor!!!


«Em funerais, missas do sétimo dia e acções de campanha, vai quem quer», respondeu, esta manhã, Manuela Ferreira Leite aos jornalistas, quando questionada sobre a ausência dos "barões" do PSD, na campanha eleitoral. Comentários para quê?!

Notícia do mês de Agosto (II)


"Pare de fumar e tem casa sem pagar: a nova campanha antitabagista lançada na Arábia Saudita foi um êxito, segundo o jornal Saudi Gazette. Centenas de sauditas estão dispostos a renunciar ao cigarro para poderem participar num sorteio da organização Pureza. O grande vencedor, designado ao fim de uma semana de abstinência, terá as despesas de casamento pagas. E os 20 seguintes receberão mobiliário gratuito. A oferta é válida para homens que contraiam a primeira união e que tenham celebrado um contrato nupcial. Na Arábia Saudita, o custo dos casamentos é, frequentemente, proibitivo. Festa, dote e casa mobilada são financiados pelo noivo. Muitos homens desistem de casar por falta de meios. Daí o êxito desta campanha, que visa criar lares sem nicotina. Um terço dos estudantes sauditas convive com fumadores".


Saudi Gazette, Riade (cit. in Courrier Internacional, nº 162, p. 113)

Notícia do mês de Agosto (I)


"Decidiu oferecer um colchão novo à sua velha mãe? Excelente. E deitar para o caixote de lixo o colchão antigo e o milhão de dólares que contém? Lastimável. O Haaretz conta a história de Anat, que ignorava que a mãe tivesse posto ao abrigo da crise as economias de toda uma vida. Este homem passou a pente fino, freneticamente, os três vazadouros de Telavive. Em vão. «É preciso pôr as coisas em perspectiva e agradecer a Deus o bom e o mau», declarou no final".

Haaretz, Telavive (cit. in Courrier Internacional, nº 162, p. 112)

28 agosto 2009

Frase do mês de Agosto (IV)


«A obrigação de apertar o cinto de segurança é fascismo». "O Tribunal Constitucional polaco decretou que o dispositivo não viola a dignidade dos condutores, ao contrário do que defende o excêntrico líder da União da Política Real, o político Janusz Korwin-Mikke".


Ziennik, Varsóvia (cit. in Courrier Internacional, nº 162, p. 18)

26 agosto 2009

Frase do mês de Agosto (III)


«O corpo é como um automóvel. Quanto mais velhos, mais atenção requerem, e ninguém deixa um Ferrari estacionado ao sol», afirmou a actriz britânica Joan Collins. "Deve ser por isso que não parece ter 76 anos...".


The Observer, Londres (cit. in Courrier Internacional, nº 162, p. 18)

25 agosto 2009

Frase do mês de Agosto (II)


«Sinto-me tão vivo! Sentes isso?», disse Michael Jackson, "a Kevin Mazur, seu fotógrafo e amigo, após um ensaio para a série de concertos «This is it», que preparava no momento em que morreu".


Daily Mirror, Londres (cit. in Courrier Internacional, nº 162, p. 18)

23 agosto 2009

Frase do mês de Agosto (I)


«Os iranianos só compreendem a linguagem da força». "Segundo documentos que o FBI divulgou, o ditador terá dito aos agentes federais, que o interrogaram após a sua detenção, que considerava o Irão uma grave ameaça para o seu país. Saddam, enforcado em 2007, explicou que foi por isso que preferiu fingir que o Iraque tinha armas de destruição maciça, em vez de admitir a sua vulnerabilidade".


Asharq al-Awsat, Londres (cit. in Courrier Internacional, nº 162, p. 18)

14 agosto 2009

O futebol está de volta


Este fim-de-semana vai ficar marcado pelo início da Liga Sagres 2009/2010. Este ano a competição começa mais cedo, já que a época irá terminar com o Mundial na África do Sul, no próximo Verão.

Por questões académicas, profissionais e, talvez, por algum desinteresse, não consegui acompanhar as pré-épocas dos clubes da principal competição profissional, como é meu hábito. O único clube que acompanhei de perto, foi o Benfica – coração oblige. Assim sendo, irei fazer uma análise, do pouco que vi e li, unicamente sobre os “três grandes” e “eternos” candidatos ao título nacional. Esta análise deve ter em conta que o fecho do período de transferências só se realizará a 31 de Agosto, logo, podendo sofrer alterações.



FC PORTO: o FC Porto que se apresenta para esta nova época mostra-se muito diferente e, de alguma forma, transfigurado pelas muitas entradas (11) e pela saída de alguns jogadores fulcrais para a equipa. Essas mesmas saídas (especialmente Lisandro e Lucho) levam-me a reflectir sobre as reais ambições do FC Porto para as competições europeias. Mas tanto um como o outro já tinham demonstrado interesse em mudar de ares e as saídas acabaram por ser inevitáveis. A curiosidade vai ser ver quais as alternativas para esses dois jogadores. Pessoalmente, a principal curiosidade será ver como Jesualdo Ferreira vai colmatar a saída, daquele que para mim, era o jogador mais importante do FC Porto nas últimas épocas, Lucho González (que vai acabar por passar ao lado de uma grande carreira ao mudar-se para o Marselha).

Assim sendo, e tendo em conta que, tanto Lucho como Lisandro, são jogadores insubstituíveis, a Direcção do FC Porto optou por ir buscar em quantidade de forma a dar várias opções ao seu treinador. Agora, está nas mãos do professor Jesualdo Ferreira encontrar mecanismos para que a equipa não se ressinta e consiga manter a sua hegemonia dos últimos anos, já que é isso que os seus adeptos exigem, para além de ser o principal candidato ao título.

A segunda curiosidade será ver quanto tempo os adeptos do FC Porto darão a Jesualdo Ferreira para construir esta nova equipa. Tal como na época passada, acredito que Jesualdo terá de fazer ensaios e adaptações para chegar ao figurino pretendido. O sucesso dependerá, e muito, da adaptação dos novos jogadores (especialmente dos, novos, sul-americanos, tendo em conta a diferença do futebol entre os dois continentes) e do crescimento de alguns jogadores que deixaram muito a desejar, na época transacta (casos de Sapunaru, Guarín, Tomás Costa ou Farías).


SPORTING: a estratégia do Sporting para a nova época mantém-se intacta, mesmo com a entrada de um novo Presidente. Esta estratégia prende-se, não só para dar maior serenidade e estabilidade ao plantel, mas principal pelas obrigações financeiras que o clube tem perante os seus credores. Assim sendo, Paulo Bento obteve dois jogadores novos (Matías Fernández e Caicedo) e fez regressar outros dois emprestados (Saleiro e André Marques). Quanto aos dois primeiros, parecem-me excelentes contratações e são jogadores para entrarem de “caras” para o onze de Paulo Bento. Quanto aos dois últimos, tenho muitas dúvidas que sejam reais alternativas.

No que concerne as saídas, a principal baixa prende-se com Derlei. Pela sua entrega em campo, será um jogador difícil de colmatar. As outras saídas não terão consequências de maior, já que eram jogadores que não eram indiscutíveis nas escolhas de Paulo Bento.

De um ponto de vista geral, o Sporting parece-me o mais fraco dos “três grandes”. Todos os sectores da equipa parecem-me ter deficiências e alguma falta de qualidade. Mais uma vez, Paulo Bento terá que realizar uma época com um plantel muito curto. Mas terá o Sporting capacidade de fazer melhor que nas épocas anteriores, ou pelo menos o mesmo? Para já, e tendo em conta as exibições da pré-época e dos jogos com o Twente para a Liga dos Campeões, os sportinguistas parecem ter uma época muito difícil pela frente… Tal como o FC Porto, o Sporting terá que obter maior rendimento de alguns dos jogadores que transitam da época passada e que, por sinal, são os mais experientes do plantel, isto é, Caneira, Rochemback e Postiga. Além disso, terá de ser a época de afirmação de outros como Veloso, Djaló ou Pereirinha, que só por momentos demonstraram alguma qualidade. Por fim, as questões de indisciplina da época passada, terão um papel crucial para uma época melhor.


BENFICA: tal como referi no início deste post, foi a equipa que melhor acompanhei, pelas razões já conhecidas. Desta forma, arrisco a fazer uma análise mais profunda.

O Benfica versão 09/10 apresenta-se, mais uma vez, de cara lavada e pronto para “mais um ciclo”. Depois de um ciclo eleitoral, em que o Presidente saiu reforçado e prometeu uma grande aposta no futebol, os encarnados apresentam-se com dez novos jogadores (alguns deles de qualidade duvidosa) e, sobretudo, com um novo treinador – Jorge Jesus – que terá a vantagem (em relação a Quique Flores) de conhecer melhor o futebol português. As expectativas são altas, tendo em conta a pré-época realizada e pela impaciência dos rigorosos adeptos benfiquistas. No entanto, é necessário ter alguma calma e esperar para ver a equipa em acção quando os jogos forem mesmo a “doer”.

Começando pela baliza, o Benfica apresenta dois guarda-redes de bom valor (Quim e Moreira) e uma incógnita (Júlio César). Este último veio para substituir o “susto” Moretto. No entanto, preferiria que os encarnados apostassem num jovem da cantera, já que muito dificilmente o terceiro guarda-redes jogará. Contudo, a aposta em Júlio César, é uma aposta de futuro e demonstrou no Belenenses algumas qualidades. Na luta da titularidade, Quim parece-me melhor, pela sua experiência. Terá que ganhar, de novo, a confiança mental de outros tempos, em que, e muito, salvou o Benfica.

Na defesa, sector mais frágil na época passada, as laterais continuam com as mesmas fragilidades. Do lado esquerdo, Shaffer parece o mais forte candidato a ocupar o lugar. Contudo, não parece agradar a Jorge Jesus, que também já dispensou (e mal) Sepsi e fez vir César Peixoto (que se notabilizou a jogar como médio-interior esquerdo e a número 10, em Braga (não a defesa esquerdo)). Isto, leva a crer que o David Luiz poderá (mais uma época) ocupar o lado esquerdo da defesa. Perde-se um grande central, o mais rápido de todos, a sair da defesa. Do lado contrário, Patric não convenceu ninguém e continuo a achar que Maxi Pereira é um jogar esforçado, mas não jogador para o Benfica. Quanto à repescagem de Luís Filipe… só se compreende pela falta de dinheiro para comprar um novo jogador. Quanto aos centrais, Luisão e David Luiz parecem os mais fortes para ocupar os lugares. Contudo, veria com bons olhos a venda de Luisão, já que no banco existem centrais de qualidade (Sídnei, Miguel Vítor e o jovem, promovido dos juniores, Roderick Miranda).

No meio-campo, a trinco, Javi Garcia apresenta-se como o dono do lugar (até pelo valor que custou!), tendo Yebda como sombra. Na posição de interior-esquerdo, Di María tem realizado uma pré-época de grande qualidade e será, pelo menos, neste início de época o titular. No entanto, terá de ter muito cuidado com a concorrência do transfigurado Fábio Coentrão (mais maduro, disciplinado e trabalhador em prol da equipa). A médio interior-direito, Ramires parte na pole position. Porém, o facto de ter tido uma época desgastante e sem férias, poderá relegá-lo para o banco, neste início de época. Como substitutos, o plantel apresenta Carlos Martins (que terá que mostrar muito mais do que na época transacta) e o polivalente Rúben Amorim, para além, de Urretaviscaya que, contudo, deverá (ou pelo menos deveria, de forma a poder jogar com mais regularidade) ser emprestado. Na posição mais adiantada do losango de Jorge Jesus, o plantel tem à disposição Aimar. Aqui faltará um verdadeiro substituto, já que nem Nuno Gomes, nem Carlos Martins serão verdadeiras alternativas ao argentino.

Por fim, na frente de ataque, a dupla Cardozo – Saviola será titular. Weldon e Nuno Gomes serão os substitutos, tal como o jovem Keirrison, emprestado pelo FC Barcelona. Quanto a Mantorras já não tenho comentários. Mais uma vez, repito aquilo que já referi na época passada e na anterior, mesmo sendo um ícone e de ter muita empatia com os adeptos, Mantorras nunca voltará aos tempos áureos. Era preferível encontrar uma saída que fosse boa para o jogador e para o clube (que poderia até nem passar pela sua saída do clube), antes de deixar arrastar este processo mais tempo. O Benfica é um clube, aparentemente, profissional e não pode deixar-se envolver nestas formas de sentimentalismos. Para o bem do clube e do próprio jogador…

16 julho 2009

Novo site de actualidade

Foi lançado no passado dia 26 de Maio, por iniciativa da Comissão Europeia, um site da Internet sobre a actualidade europeia e internacional. O acesso é gratuíto e apresenta, diariamente, uma grande selecção de artigos publicados, especialmente, na imprensa dos 27 Estados-membros da União Europeia. O site está disponível em várias línguas, incluíndo o português. A execução deste site está sob a responsabilidade da revista francesa "Courrier International", com colaboração de outras publicações, como a "Internazionale" (Itália), "Forum" (Polonha) e o "Courrier Internacional" (Portugal).

Um site a consultar que estará disponível na minha lista dos blogues e sites "A não perder".

15 julho 2009

Notícia do mês de Julho (II) - Para quem não gosta dos seus vizinhos...

"Exasperado pelo barulho dos seus vizinhos, um israelita de Nez Tziona decidiu vingar-se. Concebeu um mecanismo engenhoso para intoxicar os vizinhos barulhentos com vapores de cola. Por intermédio de um aspirador transformado em bomba e de uma mangueira, enviava essas emanações nocivas para o andar superior do edifício, pelas condutas de renovação do ar (...). O cidadão israelita foi acusado de agressão e violação de domícilio."

In: Courrier Internacional, Julho 2009, nº 161, p. 110.

12 julho 2009

Precisa-se de matéria-prima para construir um país - Eduardo Prado Coelho, in Público

Eduardo Prado Coelho, antes de falecer (25/08/2007), teve a lucidez de nos deixar esta reflexão, sobre nós todos, por isso façam uma leitura atenta.


Precisa-se de matéria prima para construir um País
Eduardo Prado Coelho - in Público

"A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates.

O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.

Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.

Pertenço a um país:

-Onde a falta de pontualidade é um hábito;

-Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.

-Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois, reclamam do governo por não limpar os esgotos.

-Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.

-Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é 'muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.

-Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.

-Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar.

-Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.

-Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.

Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.

Não. Não. Não. Já basta.

Como 'matéria prima' de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa. Esses defeitos, essa 'CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA' congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente má, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não noutra parte...

Fico triste.

Porque, ainda que Sócrates se fosse embora hoje, o próximo que o suceder terá que continuar a trabalhar com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos.

E não poderá fazer nada...

Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, nem serve Sócrates e nem servirá o que vier.

Qual é a alternativa?

Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror?

Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa 'outra coisa' não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados!

É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...

Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a acontecer-nos:

Desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e, francamente, somos tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.

Agora, depois desta mensagem, francamente, decidi procurar o responsável, não para o castigar, mas para lhe exigir (sim, exigir) que melhore o seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.

Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO DE QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.

AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO NOUTRO LADO.

E você, o que pensa?... MEDITE!"

EDUARDO PRADO COELHO

10 julho 2009

Onde está o Berlusconi?!

Notícia do mês de Julho


Há muito que nos habituamos a ouvir os nossos deputados insultarem-se, uns aos outros, em plena Assembleia da República. Com a mais recente polémica com o ex-ministro Manuel Pinho, muito se discutiu sobre a “baixeza” a que chegou o discurso dos nossos políticos. Contudo, para quem pensa que “só neste País [Portugal] é que acontecem estas coisas”, aqui fica uma polémica, na Polónia, entre colegas de governo.

Os protagonistas foram a ministra do Trabalho e dos Assuntos Sociais, Jolanta Fedak, e um dos seus colegas, o ministro da Agricultura, Marek Sawicki. À entrada para um Conselho de Ministros, a ministra Jolanta Fedak gritou para o seu colega “vai-te foder!”, não se lembrando que poderia haver (como houve) microfones ligados. Esta reacção de Fedak deveu-se às felicitações que Sawicki lhe deu pela sua “bonita gravata”. No entanto, Fedak não usava gravata, mas um colar…



In: Courrier Internacional, Julho 2009, nº 161, p. 18.

06 julho 2009

O estado do País


Esta noite sonhei com Mário Lino (Por Miguel Sousa Tavares, in Expresso)

"Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa. Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis. Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:
- É sempre assim, esta auto-estrada?
- Assim, como?
- Deserta, magnífica, sem trânsito?
- É, é sempre assim.
- Todos os dias?
- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.
- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?
- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.
- E têm mais auto-estradas destas?
- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.
- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?
- Porque assim não pagam portagem.
- E porque são quase todos espanhóis?
- Vêm trazer-nos comida.
- Mas vocês não têm agricultura?
- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.
- Mas para os espanhóis é?
- Pelos vistos...
Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:
- Mas porque não investem antes no comboio?
- Investimos, mas não resultou.
- Não resultou, como?
- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.
- Mas porquê?
- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.
- E gastaram nisso uma fortuna?
- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...
- Estás a brincar comigo!
- Não, estou a falar a sério!
- E o que fizeram a esses incompetentes?
- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.
- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?
- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.
Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.
- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?
- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.
- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?
- Isso mesmo.
- E como entra em Lisboa?
- Por uma nova ponte que vão fazer.
- Uma ponte ferroviária?
- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.
- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!
- Pois é.
- E, então?
- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.
Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.
- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...
- Não, não vai ter.
- Não vai? Então, vai ser uma ruína!
- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.
- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?
- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!
- E vocês não despedem o Governo?
- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...
- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?
- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.
- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?
- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.
- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?
- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.
Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:
- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?
- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.
- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?
- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.
- Não me pareceu nada...
- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.
- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?
- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.
- E tu acreditas nisso?
- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?
- Um lago enorme! Extraordinário!
- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.
- Ena! Deve produzir energia para meio país!
- Praticamente zero.
- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!
- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.
- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?
- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.
- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?
- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor.
Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:
- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?
- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.
Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:
- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!"