04 abril 2008

Eleições à vista



É sintomático que em vésperas de eleições, os governantes coloquem em prática as medidas que mais agradam aos seus eleitores. Seja em Portugal, no Japão ou na Argentina, acaba por ser um princípio básico do Marketing Político. Descidas de impostos, obras e mais obras, faz-se de tudo para que naquele, curto, espaço de tempo, os eleitores esqueçam tudo o que se fez de mau durante o resto de legislatura.

A um ano das eleições legislativas e autárquicas no nosso país, constata-se um certo apaziguamento das políticas mais sensíveis do Governo Sócrates. Com o fim da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, a 31 de Dezembro último, que o Governo tem, gradualmente, mudado o rumo que tinha traçado a quando da sua eleição há três anos. Casos como a saída de Correia de Campos da pasta da Saúde (é uma área muito sensível, por abranger toda a sociedade, ao contrário da Educação), o anúncio de obras públicas mais ou menos faraónicas e o caso mais recente da descida do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) de 21 para 20%, com entrada em vigor no próximo dia 1 de Julho.

Depois de três anos em “guerra” contra o défice público e de “aparente” saneamento das contas públicas, com o Sr. Ministro Teixeira dos Santos a repetir incansavelmente de que não teríamos descidas de impostos nesta legislatura, não deixa de ser surpreendente este anúncio da descida do IVA por parte do Governo. Mesmo com o défice de 2007 a fechar abaixo dos 3% (2,6%), o Governo Sócrates viu-se na obrigação de suavizar a crescente onda de contestação que varre o país, utilizando o argumento de que o défice está controlado?! Por favor, Sr. Primeiro-Ministro. Com 2,6%? O défice controlado? Não passa de uma medida para que os portugueses acreditem de que o pior já passou e que a partir de agora a situação vai melhor, e claro, para este Governo ficar mais quatro anos.

Para além disso, esta medida é contraditória, já que os portugueses não vão poder desapertar o cinto, nem sequer vão ver as suas carteiras com mais dinheiro (pelo menos aquele 1% a mais, da descida do IVA). Já que no dia-a-dia, a descida deste ponto percentual, não passa de uns pequeninos cêntimos, e como tal, esses poucos cêntimos vão parar ao bolso dos empresários (que já vieram aprovar com entusiasmo esta medida).

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