03 junho 2009

Os problemas do Glorioso


Parece que a Liga Sagres terminou e para os benfiquistas, como eu, terá sido uma das épocas mais sofridas, dos últimos anos. Mesmo sofrida e, emocionalmente, para esquecer, existem várias considerações a fazer e muitas conclusões a tirar.

A primeira deve-se ao facto dos problemas do Benfica, não se limitam ao cargo do treinador. Já o defendo há algum tempo e parece-me (de época para época) cada vez mais óbvio, começando, desde logo, no Presidente Luís Filipe Vieira (LFV). Tendo em conta que as competições em que o Clube participa são profissionais, acredito que toda a sua [do Clube] estrutura deveria ser profissional. (Tal como a arbitragem, mas isso é outra questão.) Assim sendo, o Presidente do Clube deveria estar em exclusividade e de forma remuneratória no Clube. Isto, no que toca à estrutura. Agora, no que concerne este presidente, em particular. Luís Filipe Vieira conseguiu trazer, de novo, ao Benfica, alguma credibilidade junto do mundo do futebol e tirar o Clube do abismo, provocados pelos anos negros de Vale e Azevedo. Trouxe uma estrutura profissional e ambiciosa que conseguiu implantar projectos vanguardistas, que aproveitaram a força económica e empresarial da marca Benfica, conseguindo receitas muito importantes para o Clube (kit sócio, Benfica TV, naming das bancadas, o rol de empresas com o nome Benfica (Benfica Seguros, Benfica Telecom, Benfica Viagens, etc.), etc.). Dentro desta equipa, destaco Domingos Soares de Oliveira (que deu uma entrevista bastante interessante à revista “Mística” do mês de Maio). Por outro lado, o Benfica construiu o centro de estágio, dando relevo a uma política de formação que há muito não se via neste Clube. Para além disso, foi criada a Fundação Benfica; apostou-se na promoção do Clube junto das crianças, com inúmeras iniciativas junto das escolas, nomeadamente; apostou-se nas Casas do Benfica, motor do benfiquismo por esse mundo fora; entre muitas outras iniciativas. Olhando para todos estes projectos, poderia concluir que LFV está a fazer um excelente trabalho à frente do Clube, criando as condições para que o Clube tenha um futuro bastante risonho (pelo menos a nível económico). No entanto, existe a “outra face da moeda”. Essa “face” tem a ver com a total trapalhada que foram os anos LFV a nível desportivo. Não me recordo de um único assunto ter sido resolvido de forma célere, com total clareza e de forma discreta, começando, por exemplo, com o circo da contratação de Moretto (quem não se lembra da viagem de LFV ao Brasil para ir buscar o jogador, antes do FC Porto, e aquela chegada ao aeroporto de Lisboa) até à mais recente, mais que provável, despedida de Quique Flores. No que toca à gestão desportiva, LFV falhou redondamente. Os números falam por si. E a falta de títulos também. LFV nunca conseguiu estancar os inúmeros boatos que saem, constantemente, nos jornais; não conseguiu colocar alguns dos seus “funcionários” nos seus lugares (directores de comunicação, assessores do clube); preocupou-se em demasia com os problemas externos ao Clube (Apito Dourado); nunca esteve bem nos timings de tomada de decisões (apresentação do Rui Costa como director desportivo, por exemplo, ou ainda, a hoje noticiada antecipação de eleições, que deveriam ter sido antecipadas para este mês, tal como fez o Sporting). Assim sendo, acredito que a era LFV chegou ao fim e, caso ele queira sair pela “porta grande” deverá fazê-lo nas próximas eleições.

Em segundo lugar, destaco a falta de uma estrutura e organização eficiente e, ao mesmo tempo, reduzida e coesa (de forma a não existirem fugas de informação). Pessoas que conheçam a realidade do Clube, que tenham competência para exercer os seus cargos e, acima de tudo, que o façam sem necessidade de aparecerem constantemente nos jornais. Além disso, uma política de informação clara, em que seja o Clube a definir os temas que saem para a imprensa e não o contrário. Sem querer glorificar o FC Porto, mas é um facto, que a estrutura e organização portista deve ser um exemplo a seguir. E porquê andar a inventar, quando o exemplo portista resultado?

Em terceiro lugar, o Rui Costa. Defendi, há um ano, que todo o processo de passagem para director desportivo foi muito mal conduzido por LFV. A meu ver, Rui Costa deveria ter passado, em primeiro lugar, por um cargo menos exposto, de forma a preparar-se para assumir um cargo de maior relevo (director desportivo ou outro). O Rui Costa goza de grande admiração por parte dos adeptos, mas pode não durar se as coisas começarem a correr muito mal. Esta última época foi vista como o Ano 0, e para a próxima? Além do mais, a vinda do Rui Costa não mudou nada na vida desportiva do futebol. E não se sabe bem se é, realmente ele, quem manda no futebol ou se é LFV.

Em quarto lugar, a questão do treinador. Aquando da contratação de Quique Flores, foi apresentado um projecto que deveria ser de dois anos. A criação de uma nova equipa, com alguns jogadores experientes e outros, de aposta futura. Este seria o Ano 0. Quique Flores conseguiu trazer alguma organização, método e profissionalismo. Mesmo não conhecendo muito da forma das suas equipas jogarem, confesso que achava e ainda acho que Quique Flores trouxe ao Benfica e ao próprio futebol português uma lufada de ar fresco. No entanto, Quique errou em toda a linha. Alguns comentadores e adeptos começam logo por criticá-lo por ter dispensado os adjuntos portugueses, já que ele não tinha nenhum conhecimento do futebol português. É uma verdade. Mas não explica tudo, já que na UEFA, o Benfica foi humilhado. Além disso, Quique não conseguiu adaptar-se aos jogadores que tinha no plantel, impondo a sua táctica aos jogadores. Queimou outros, colocando-os em posições que não eram as suas. Chegamos ao fim e os resultados desportivos não foram bons. Mas no início da época, tinha ficado bem claro que este seria um ano de transição, que não se poderia exigir qualquer vitória, é uma realidade. Mas equipa foi demasiado má, não teve uma evolução, bem pelo contrário. E isso, é outro facto. Não consigo dizer se é melhor despedir Quique Flores. Mas posso dizer, com convicção e depois de ver os últimos quinze anos, que o Benfica não pode trocar de treinador todos os anos. Para além disso, querem despedir Quique Flores sem que ele receba aquilo a que tem direito, depois da humilhação que ele passou na semana anterior ao jogo de Braga? É óbvio que ele não ia sair sem a sua indemnização, depois da Direcção do Clube o ter deixado completamente sozinho aquando das primeiras notícias da vinda de Jorge Jesus. Por fim, resta-me uma última perplexidade em relação ao treinador. Quando o campeonato terminou e já se falado da vinda de Jorge Jesus, e ao mesmo tempo da saída de Quique Flores, porque é que vários jogadores (Cardozo, Aimar, Urreta, Rubén Amorim, Luisão, entre outros) vieram apoiar este último? Não me parece que tenha sido espontâneo. E o silêncio de Rui Costa relativo a isto tudo? Não revelará alguma discordância entre Rui Costa e LFV? Parece-me estranho. Até porque se Quique ia sair, o facto dos jogadores virem a público elogiá-lo, só iria inflacionar, ainda mais, a indemnização a pagar. E se ele ia embora, quem deu o aval às novas contratações?

Existe, sem dúvida, falta de uma estratégia desportiva. Parece-me que as decisões são tomadas, mais em função dos acontecimentos presentes e da opinião pública, do que a pensar no futuro do Clube. Assim, não se vai lá. Para além disso, com a vinda de um novo treinador, virá também um novo camião TIR de jogadores?

A meu ver, acredito que a maior parte do plantel deve ficar. Assim, as mexidas que eu faria no plantel são as seguintes:

- Guarda-redes: Quim, Moreira e mais um júnior promovido. Saíria Moretto;

- Defesas-direitos: Maxi Pereira e Patric (já está confirmado);

- Defesas-esquerdos: Jorge Ribeiro e Sepsi ou Rubén Lima (estão emprestados e têm valor);

- Defesas-centrais: Miguel Vítor, David Luiz, Sídnei e mais um (promovido dos juniores (existem vários com grande valor) ou possível contratação, sendo a primeira opção a minha preferida). Saíria Luisão (para grande encaixe financeiro);

- Médios: Rubén Amorim, Yebda, Carlos Martins, Fellipe Bastos, Ramires e Aimar (talvez daria outra hipótese ao Adu ou promoveria um júnior (mais uma vez há vários de grande valor). Saíria Bynia e Katsouranis (infelizmente parece que ele quer mesmo ir embora);

- Extremos: Balboa, Urreta, Dí Maria e, se possível, Reyes. Caso não se consiga manter o espanhol, regressaria o Fábio Coentrão;

- Avançados: Nuno Gomes, Cardozo e mais um contratado e outro dos juniores. Saíria Mantorras.



PS: na falta de resultados entusiasmantes no futebol profissional, resta-nos o futebol dos escalões mais jovens e as modalidades (futsal, basquetebol, andebol, nomeadamente), onde o Benfica está a fazer uma excelente época e levando cada vez mais adeptos aos pavilhões, como eu, que aproveitei, esta noite, para fazer um programa diferente e ir ver um jogo de basquetebol, num pavilhão praticamente cheio e uma vitória clara do SLB sobre a Ovarense.

1 comentário:

Rui Miguel Ribeiro disse...

Caro João Carlos,

O 1º ponto faz uma boa síntese do que têm sido os mandatos de LFV. Relativamente ao 2º, penso que há alguma desvalorização dos avanços feitos no Benfica no plano organizativo, embora mais tenha de ser feito. Também concordo com o 3º ponto, com a nuance que eu echo que o Rui Costa devia ter jogado mais um ano.
O 4º ponto sintetiza as perplexidades que Quique gerou, mas entendo que a equipa não cresceu desde Outubro e que Quique cometeu alguns erros crassos, dos quais destacaria o (des)posicionamento do Aimar.
Quanto ao 5º ponto, concordo, exceptuando a permanência de balboa, para o qual já não tenho paciência. Coentrão sim e se o Reyes ou o Dí Maria sairem, ia aos juniores buscar o Yartei.
Gostei muito do post scriptum.

P.S. Reyes e, agora, Saviola, são (raros) exemplos de contratações céleres e eficazes.