08 junho 2009

Perdeu a Europa


Foi com grande interesse que acompanhei, na última noite, os resultados da eleição para o Parlamento Europeu. Percentagens, comentários e reacções. Uns a cantar (saloiamente) vitória, outros (poucos), tristes pela derrota.

A análise que faço da eleição de ontem, não é a melhor. Mais uma vez, a Europa e o seu ideal de união, perderam, de forma esmagadora. Porquê? Porque, e como se previa, a abstenção foi muito alta. A média da abstenção da União Europeia (UE) ficou-se pelos 57%. No entanto, existem duas realidades contrastantes. No caso do Luxemburgo, Bélgica, Malta ou Itália, a abstenção é muito reduzida (9%, 9,5%, 21% e 34%, respectivamente). Por seu lado, países como a Eslováquia, a Lituânia, a Polónia ou a Roménia tiveram uma abstenção elevadíssima (80%, 79%, 75% e 73%, respectivamente). Se, à primeira vista, poderíamos justificar esta alta abstenção devido aos países que entraram recentemente na UE, essa justificação “cai por terra”, já que Malta contraria essa justificação. Para não falar de alguns dos países fundadores da UE, como a França e a Alemanha que, também, obtiveram grandes abstenções. Tal como Portugal, com 63%. Outro dado curioso, em relação à abstenção, é o crescimento da mesma abstenção ao longo dos diferentes actos eleitorais já realizados, para o Parlamento Europeu (7).

A abstenção verificada pode justificar-se, a meu ver, pelo total desinteresse e, principalmente, desconhecimento, dos cidadãos para com a UE. A maior parte dos cidadãos não sabia “ao que ia”, não sabe das competências do Parlamento Europeu, muito menos, da importância que este tem para o seu dia-a-dia. Para isso, basta olhar-mos para as campanhas eleitorais (principalmente em Portugal, que nos estão mais próximas) para vermos o que ocupou o debate político das mesmas. Os assuntos em debate foram os problemas do País. Não me lembro de algum dos candidatos ter utilizado a palavra Europa. Por outro lado, pude verificar, em conversa com algumas pessoas, durante as últimas semanas, que não sabiam o que é que representavam estas eleições e qual a sua importância. O que demonstra o falhanço da construção do projecto europeu.

Do ponto de vista da votação em si, o grande vencedor desta eleição foi o Partido Popular Europeu (PPE), com os partidos do centro-direita europeus a ganharem, principalmente, nos principais países. O PPE vai passar a ocupar pouco mais de dois terços dos 736 eurodeputados. Em contrapartida, os partidos socialistas europeus, reunidos em Estrasburgo sob o Partido Socialista Europeu (PSE), foi o grande derrotado, perdendo 6% da representatividade no Parlamento. Além disso, verifica-se (e com preocupação) a subida de alguns partidos de extrema-direita, que conseguiu obter alguns assentos parlamentares.

Em Portugal, para além da abstenção (já dissecada anteriormente) verificamos uma tendência semelhante ao resto da UE, com a vitória do PSD (centro-direita) e a derrota do PS (centro-esquerda). Tal como, a preocupante subida de partidos dos extremos. Assim sendo, podemos concluir que, e ao contrário do que já ouvi em alguns comentários, não creio que estejamos perante um “cartão vermelho” ao Governo Sócrates. Já constatamos que a esquerda europeia foi a grande derrotada, esteja ela no governo ou não. Por outro lado, o PSD teve uma vitória… pouco convincente (31,69%). Por fim, verificamos o grande crescimento do Bloco de Esquerda, colocando-se como terceira força política nacional. Olhando para todos estes dados, podemos concluir que, para além do projecto europeu, o chamado “Bloco Central” foi derrotado ou, pelo menos, levou um grande “cartão vermelho”. Isto porque, se por um lado, verificamos uma elevada abstenção, também verificamos que quem votou, privilegiou os partidos que estão fora da esfera do poder (BE, PCP e CDS-PP). E porquê? Porque as pessoas começam a não acreditar nos tradicionais partidos do poder. Primeiro, porque estes não conseguem encontrar soluções para o País sair da crise crónica, em que está mergulhado (não falo da actual crise económico-financeira!) e porque estão fartos dos casos em que os políticos se vêm envolvidos e por sinónimo enriquecidos (Freeport e BPN). Parece-me que chegou a altura dos políticos pararem e pensarem naquilo que estão a provocar à sociedade. De colocarem os seus deveres éticos e morais acima dos seus interesses pessoais e partidários. Ao continuarmos assim, podemos chegar à falência do sistema, ao total descrédito dos partidos e dos seus políticos. O crescimento do BE e os votos do PCP são disso imagem (partidos anti-europeus).

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